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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A entrevista de Jesus (Parte III) - JESUS E REBECA

DR ERIVELTON LAGO - O ADVOGADO QUE ENTREVISTOU JESUS CRISTO NA NOITE QUE ANTECEDEU A SUA PRISÃO E SUA MORTE - (PARTE III)




Advogado Erivelton: Você é jovem, bonito e muito inteligente
JESUS: obrigado!
Advogado Erivelton: Nunca pensou em casar, ter filhos?
JESUS: A minha mãe vivia me dizendo: Vai, meu filho, trata de te casar. Seria hora de se tornar um pouco mais sério agora. Veja Mochéh, Ram e Késed: todos eles já tem filhos. Teus irmãos mais novos já me fizeram avó. O que esperas? Perguntava a minha mãe
Advogado Erivelton: E você, o que respondia para ela?
JESUS: Eu pouco dava ouvidos para essas indagações. Eu não pensava nada, sequer pensava nisso. Ela dizia que eu deveria ter um namoro sério achando que eu tinha dezenas de mulheres; que eu era o sedutor de Nazaré, minha aldeia. Ela pensava assim porque me via horas a fio discutindo e passeando com essa ou aquela mulher, mas não era nada do que ela ou os outros pensavam
Advogado Erivelton: Você gostava da companhia das mulheres?
JESUS: Sim, eu gostava da companhia das mulheres e elas da minha. Mas nós não desaparecíamos no mato ou nas granjas para nos esfregarmos um ao outro, nós falávamos. Nada mais. As mulheres falam coisas mais interessantes. Mochéh me via voltar e escarnecia. Tu não vem me dizer que não fizeram nada quando estavam juntos? Eu respondia: Nós falávamos apenas da nossa vida, de nossos pecados. Minha mãe ficava cada vez mais inquieta. Quando vai te casar meu filho? Tu não vais acabar velho e solteiro, não é mesmo? Você não quer filhos?
Advogado Erivelton? Você nunca pensou em ter filhos?
JESUS: Não, na verdade eu não queria ter filhos, eu não me sentia maduro para procriar, tinha a impressão de ser ainda um filho. Como poderia oferecer a mão a uma criança? Para levá-la aonde? E dizer-lhe o quê? Sei que a pressão era muito grande.
Advogado Erivelton: Você não se sentiu atraído por nenhuma moça da aldeia?
JESUS: Rebeca. Eu e ela acreditamos que o ar é transparente e descobrimos que ele é opaco: O sorriso de Rebeca penetrou o espaço e veio se fixar em mim em um segundo. Eu era a sua presa.
Advogado Erivelton: Rebeca era bonita?
JESUS: Sim, por causa do preto azulado da sua trança, a brancura da sua tez, tenra como o interior de uma pétala de campainha, olhos tranqüilos, verde- amarelos, seu corpo esbelto brincava de aparecer e desaparecer sob a túnica. Rebeca era mais mulher do que todas as outras mulheres, ela resumia todas, ela superava, todas, ela era única.
Advogado Erivelton: você a paquerou?
JESUS: Eu não tive necessidade de fazer-lhe a corte. Meus olhos falaram por mim...creio que ela também me amou desde o primeiro olhar que lhe lancei. À primeira vista nós nos reconhecemos.
Advogado Erivelton: A sua família e a família dela incentivaram vocês?
JESUS: Nossas famílias perceberam isso depressa e nos incentivaram. Rebeca não era de Nazaré. Ela vivia em Nain, numa rica família de armeiros. Mamãe derramou lágrimas de alegria quando me viu consagrar minhas economias à compra de um broche de ouro: Finalmente seu filho realizava os desejos de todo mundo.
Advogado Erivelton: então você namorou com ela?
JESUS: Em Nazaré, como em toda a Judéia a coisa não é tão simples assim. São formais até no namoro
Advogado Erivelton: Então o que aconteceu? Conte! Estou curioso!
JESUS: Então, numa noite, decidi fazer o meu pedido. Levei Rebeca a uma taberna à beira d’água. Ali, num terraço iluminado a óleo, em meio ao frescor das tílias, as mesas esperavam os apaixonados. Sem ter certeza do que eu ia pedir-lhe, Rebeca estava ainda mais enfeitada que o de costume. As jóias amolduravam o seu rosto, como pequenas lâmpadas destinadas a iluminá-la, e só ela.
Advogado Erivelton: Taberna, iluminação, frescor das tílias, mesas e paixão? E aí?
JESUS: Começamos a conversar, eis que chegou um velho e uma criança ele disse: Caridade, por favor! Dei um suspiro de irritação. Passem de novo mais tarde-disse Rebeca, secamente. O velho afastou-se respeitosamente com a criança. Começamos a nos servir. A comida estava suntuosa, os peixes e as carnes ornados com mil detalhes que lhes davam um ar de festa
Advogado Erivelton: O velho e o garoto, voltaram para atrapalhar o casal de novo?
JESUS: O velho e o garoto, sentados na beira do rio, nos olhavam comer com vontade. Maltratado por todos, o ancião tinha, no entanto, guardado da boca de Rebeca que ele deveria passar de novo mais tarde. Ele aguardava um sinal nosso para se aproximar. Seus olhos humilhados me irritavam, eu esticava o pescoço para não olhar em sua direção
Advogado Erivelton: Rebeca, estava feliz?
JESUS: Com a ajuda do vinho, ela desabrochava num humor feliz. Ela ria de qualquer coisa, parecíamos ser o centro do mundo, jamais a terra havia tido um casal mais jovem, mais vivo, mais bonito que nós dois naquela noite. Na mesa e na hora da sobremesa ofereci o broche a Rebeca. Ficou maravilhada com a jóia e caiu em lágrimas. Também comecei a chorar. Essas lágrima, que nos uniam, nos jogaram um contra o outro, dando-nos uma violenta vontade de fazer amor
Advogado Erivelton: E aí, o que aconteceu?
JESUS: O velho e a criança voltaram. Caridade, por favor. Mãos estendidas, famintos. Rebeca deu um gritinho de raiva e chamou o taberneiro. Será que não podemos jantar tranquilamente? Balancei a cabeça concordando com ela. Perdão moça, respondeu o taberneiro que em seguida deu lhes um esfregão e os expulsou da taberna. Os pratos ainda estavam cheios de comida que era muita só para duas pessoas. Olhei o broche que dei a ela, olhei a nossa felicidade e fiquei mudo
Advogado Erivelton: Mudo? O que aconteceu?
JESUS: O amor é mais forte do que tudo, mas o homem casto é o homem mais forte que o próprio amor...É o próprio amor a serviço de todos os homens, fracos e fortes. Ali junto com Rebeca, repentinamente começou a fazer frio. Acompanhei Rebeca até sua casa
Advogado Erivelton: E o broche? E o noivado?
JESUS: No dia seguinte, rompi o noivado
Advogado Erivelton: E o povo? O que disseram as pessoas? Sua mãe?
JESUS: Aos olhos de todos, eu jogava sobre mim todos os erros. Nunca expliquei nada a ninguém, nem mesmo à minha mãe suplicante. Não mais do que a Rebeca
Advogado Erivelton: Meu Deus! Mas o que aconteceu, homem de Deus?
JESUS: A verdade é que naquela noite, na euforia do namoro e da beleza de Rebeca, me fez por alguns momentos rejeitar a miséria, eu descobri o que há de profundamente egoísta na felicidade. A felicidade isola, fecha as portas, faz esquecer os outros, ergue muralhas intransponíveis; a felicidade pressupõe que nos recusemos a ver o mundo tal como ele é; em uma noite, a felicidade me pareceu insuportável
Advogado Erivelton: O amor e a felicidade andam juntos?
JESUS: Pode ser, mas eu preferia andar com o amor. Mas não o amor que eu sentia por Rebeca, esse amor exclusivo onde prevalece a fúria e o egoísmo não me interessa. Eu não queria mais o amor particular, eu queria o amor em geral. Eu queria o amor que pudesse guardá-lo para aquele velho e o menino que me pediram esmola na taberna. Eu queria um amor que eu pudesse guardá-lo para aqueles que não são tão belos, atraentes, interessantes. É muito fácil amar os belos e os engraçados. Devemos amar as pessoas não amadas.
Advogado Erivelton: Você é feliz?
JESUS: Não sei se sou feliz. Sei que não fui feito para a felicidade. Não sendo feito para a felicidade, não fui feito para as mulheres.
Advogado Erivelton: A rebeca o fez feliz?
JESUS: A Rebeca, sem querer, a Rebeca me fez aprender um pouco sobre a felicidade particular
Advogado Erivelton: O que foi feito de Rebeca?
JESUS: Seis meses mais tarde ela se casou com um belo agricultor de Nain, de quem se tornou a mulher fiel e amorosa. Minha mãe ficou muito triste: Meu filho você é tão inteligente como podes fazer tantas loucuras? Eu não te compreendo. Se ao menos teu pai estivesse vivo!
Advogado Erivelton: Caso seu pai estivesse vivo, mudaria alguma coisa?

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