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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Presidente da OAB/RO destaca importância da advocacia na abertura do Ano Judiciário Trabalhista



Durante a abertura do Ano Judiciário Trabalhista que aconteceu na manhã desta quinta-feira(10), na sede do Tribunal Regional do Trabalho – 14 Região, o Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Rondônia (OAB/RO), Andrey Cavalcante, destacou o simbolismo, identificado na solenidade, de que não há Justiça sem a advocacia e sem a defesa das liberdades.
 “Materializam-se, nesse instante, todos os artigos, parágrafos e incisos do Capítulo II do Estatuto da Advocacia e da OAB, que traz a lume: não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos”, salientou o Presidente. 
Andrey Cavalcante lembrou que a partir da Constituição Federal de 1988, a advocacia passou a ter uma importância ainda maior: “a classe passou a ser considerada indispensável à administração da Justiça, a partir do Artigo 133, e foi eregida à condição de defensora dos direitos e garantias fundamentais”.
O Presidente da OAB/RO voltou a falar que em sua gestão vai defender a integridade das prerrogativas dos advogados como garantia da defesa dos cidadãos e da independência da liberdade no exercício. Reafirmou que irá servir a Ordem com ideal e desprendimento, tendo os olhos voltados às reais necessidades da advocacia. “Lutaremos pela advocacia e para a advocacia”.
O Presidente da OAB/RO também fez questão de enfatizar em seu discurso das características marcantes identificadas ao longo da vitoriosa carreira na magistratura do atual Presidente da Corte do TRT-14, Ilson Alves Pequeno Junior, fulcradas na “defesa das garantias fundamentais dos cidadãos, da independência e das liberdades, ideais pelos quais a Ordem dos Advogados do Brasil sempre lutou. Daí reside a expectativa dos advogados rondonienses de que no seu curto, mas intenso mandato serão lançadas novas bases para o pensamento da Justiça, idealmente acobertadas por seu sentimento humanista, grande marca de sua gestão, cremos por certo”, enfatizou.
Andrey Cavalcante ainda destacou o compromisso de colaborar com os esforços do TRT-14 na busca para o aperfeiçoamento dos instrumentos e mecanismos de aplicação da Justiça, da dinamização das atividades e serviços da Corte e ampliação da parceria com o fim de proporcionar maior qualidade no atendimento aos jurisdicionados, bem como, melhores condições de trabalho aos advogados trabalhistas.
“Entendemos que somente com a luta conjunta por um Judiciário e por uma advocacia cada vez mais fortalecidos poderemos continuar a garantir a segurança jurídica, a liberdade ativa e a constituição, promovendo o ideal equilibro do Estado democrático”, finalizou o Presidente da OAB/RO.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Conheça os caminhos para advogados no ano novo



Hora de tomar decisões para o ano novo. Para muitos advogados empregados, o sonho de fazer carreira solo ou abrir sua própria firma volta à pauta de todo fim de ano. Mas o sonho pode ser mau conselheiro. Aponta um objetivo, mas não fornece os meios para se chegar lá. Vontade de ser o próprio chefe? Pode ser uma motivação para deixar o emprego, não para levar uma firma ao sucesso. O primeiro elemento que o advogado deve avaliar, se quer desenvolver um empreendimento com êxito garantido é se tem ou não um espírito empreendedor, diz a advogada Suzanne Meehle, em um artigo para o blog Solo Practice University.
Essa é a chave do sucesso. Segundo ela, para advogados sem espírito empreendedor, há três caminhos possíveis: 1) Fazer a intenção, neste fim de ano, de encontrar motivação para ser feliz no emprego; 2) abrir sua firma ou partir para carreira solo, mesmo sem esse elemento-chave, sabendo que o caminho será árduo; 3) encontrar um sócio que tenha espírito empreendedor.
Há diferenças fundamentais entre profissionais com ou sem espírito empreendedor, diz Suzanne Meehle. O profissional sem espírito empreendedor olha para o mercado e vê concorrência. O profissional com espírito empreendedor, olha para o mercado e vê oportunidades. Um tem dificuldades para enxergar o que vai diferenciá-lo da multidão de advogados no mercado; outro tem facilidade para identificar seu nicho único, suas qualidades únicas.
O advogado que leva uma firma ao sucesso é antes de tudo um empreendedor, afirma a autora do artigo. Um ser três-em-um, que é um empresário, um marqueteiro e um profissional (não tem, necessariamente, de ser um profissional excepcionalmente qualificado, porque poderá contratar profissionais não empreendedores) — afinal, terá de cumprir as funções de cada um deles ou dividi-las com sócios, se quiser que a firma prospere.
Empreendedores não se atrelam a horários de trabalho, não se apegam ao conforto do lar, nos fins de semana, ou no horário nobre da TV, nos dias úteis. Se são também marqueteiros, sempre há alguma atividade apropriada para fazer marketing. Há que se frequentar associações profissionais (de possíveis clientes ou de advogados); clubes (onde estão os possíveis clientes), organizações comunitárias (de onde saem referências), além de participar de congressos, seminários, encontros sociais, qualquer evento em que será possível fazer relacionamentos. Ou mesmo ir a um "car wash" sofisticado, aos sábados, para conhecer gente.
Um advogado não empreendedor se preocupa muito com a necessidade de um bom capital para abrir a própria firma. Além dos custos fixos, fazer marketing e conquistar clientes pode ser uma atividade cara. Um advogado empreendedor considera que capital ajuda, mas não se trava diante de parcos recursos. Basta fazer marketing de guerrilha, que exige mais motivação do que verbas — e são muito utilizadas por empreendedores descapitalizados.
Muitas dessas estratégias já foram descritas na ConJur, que já listou as "50 ideias de marketing de guerrilha para advogados. Mas, a fonte de inspiração de advogados empreendedores é inesgotável. E a criatividade, idem.
A advogada Deborah Gonzalez mandou imprimir a logomarca de sua firma na capa protetora de seu iPhone — um item que pode estar constantemente no ouvido, nas mãos, sobre uma mesa ou balcão no tribunal, no restaurante, no shopping center, em qualquer lugar. Não é um caminhão ou uma camionete com a logomarca de uma empresa, mas é um item visível.
A advogada colocou na capa de seu iPhone, além da logomarca de sua firma, um slogan curto, que definia sua área de atuação, com o custo de US$ 40. Ela disse à sua colega Susan Liebel que encomendou a capa do telefone, já com a impressão, no site Zazzle.com. Susan não só fez a mesma coisa, como escreveu em um artigo para o blog Solo Practice University, como expandiu a ideia: por que não colocar adesivos no laptop e no tablet? O adesivo pode trazer mais informações, como dados para contatos da firma (como se fosse um cartão de visitas) — até para o caso de serem esquecidos, perdidos e encontrados por uma pessoa honesta.
Em um artigo na Inc. Magazine, Eric Schurenberg definiu empreendedorismo como "a perseguição de uma oportunidade sem preocupação com os recursos atualmente sob controle". Isto é, um empreendedor é alguém que percebe e persegue oportunidades, mesmo que não disponha dos recursos (como capital) para fazê-lo. Para Suzanne Meehle, um empreendedor é alguém que quer vencer por esforço próprio, com coragem para dispensar um salário fixo, todo fim de mês. "Não é uma questão de disposição para assumir riscos. É uma questão de carpe diem. ("viver cada momento" da jornada em busca do sucesso).
"No meu caso, quando decidi abandonar um emprego regiamente pago para abrir minha própria firma. A motivação não era o meu ego, não era o desejo de ser minha própria chefe. Foi a oportunidade que vi a minha frente, como uma fruta deliciosa em uma árvore, ao alcance da mão. Foi só pegar. Minha vontade de ter meu próprio empreendimento, a paixão pela oportunidade de praticar advocacia em meus próprios termos, eram maiores do que meu apego a um ótimo salário e as perspectivas de fazer carreira na firma em que trabalhava", escreveu.
No caso de Suzanne, foi mais fácil confirmar que tinha um espírito empreendedor, na hora de decidir pela abertura de sua própria firma. Ela descobriu isso aos 16 anos, quando começou a prestar serviços de babá temporária para custear seus estudos. "Descobri que todas as babás cumpriam sua obrigação: olhar as crianças. Mas eu queria ter mais clientes e ser mais bem paga. Por isso, comecei a cozinhar para as crianças, estimulá-las e ajudá-las a fazer as tarefas da escola e a apanhar os brinquedos espalhados pela casa, depois de colocá-las para dormir. Não demorou muito para minha agenda ficar cheia e para eu me tornar a babá mais bem paga da cidade", conta.
Se há um elemento que torna um país mais desenvolvido economicamente que outro ou que torna um estado mais rico que outro em um país, é a mentalidade empreendedora de seu povo.

Advogados na Escócia não usam Twitter nem Facebook



O Facebook e o Twitter não são populares na Advocacia na Escócia. Apenas 14% dos advogados postam algum comentário no Facebook pelo menos uma vez por semana e só 7% escrevem algo no Twitter. Cerca de 85% dos profissionais nunca sequer usou o Twitter. Os dados foram divulgados pela Ordem dos Advogados escocesa, a Law Society of Scotland, que entrevistou 500 advogados no país.
Direito de famíliaA Corte Europeia de Direitos Humanos começa o ano com processos na pauta que envolvem amor, família e direitos. No dia 16 de janeiro, o tribunal vai discutir se constituir família é direito restrito a um homem e uma mulher ou se os gays também podem se valer dele. Os juízes terão que analisar legislação da Grécia que impede que duas pessoas do mesmo sexo se casem ou estabeleçam união civil. Ainda não há data prevista para o julgamento, mas já é certo que, não importa qual for a decisão, vai fazer barulho na Europa.
Padre de família Já no final do mês, a corte começa a julgar o caso do padre espanhol que casou e teve cinco filhos. Ele é um dos muitos que, depois de ser ordenado padre, se apaixona, pede dispensa do celibatário e, mesmo continuando com o título, perde o direito de exercer o ministério. Na corte europeia, o padre acusa a Espanha de discriminação por tê-lo dispensado do trabalho como professor de catolicismo. A Igreja já sabia que o padre era casado, mas não gostou quando a sua situação civil virou manchete de jornal.
Definições de crençaNa Inglaterra, a corte superior decidiu que igrejas que seguem a Cientologia não podem celebrar casamentos. Isso porque a Cientologia não entra no conceito de religião definido pela lei e jurisprudência inglesas. Um casal pediu à Justiça autorização para se casar em uma das instituições que promovem a crença no país. Clique aqui para ler a decisão em inglês.
Você é o juizO site You be the Judge, do governo do Reino Unido, aposta na brincadeira para mostrar a seriedade e complexidade do trabalho dos juízes. Nele, o internauta pode se colocar na pele dos magistrados, assistir a narração de casos reais e julgar. No final do ano, o governo recheou o site com novos crimes — de vandalismo a assassinatos — à espera de julgamento.
Proibido para menores
A Rússia adiou, mas não desistiu do projeto de lei que pode tornar ilícito discutir direitos dos homossexuais com crianças. O Parlamento russo vai discutir em 2013 a proposta que proíbe promover a homossexualidade perante menores de idade. O Conselho da Europa já demonstrou preocupação com o projeto e convocou a Comissão de Veneza para elaborar um parecer sobre o assunto.

Conselho da OAB-PI toma posse e reajusta anuidade de advogados

Novo valor terá acréscimo de 5,67% e continua podendo ser parcelado até março



A nova diretoria do Conselho da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Piauí tomou posse ontem (02/01). O ato administrativo foi prosseguido do primeiro encontro de conselheiros da OAB-PI, oportunidade em que debateram sobre três pontos, marcando assim o início dos trabalhos da nova gestão.
O primeiro foi sobre a data da posse solene do novo presidente da Ordem Willian Guimarães. Embora haja uma tentativa de mudança para que o evento aconteça no dia 21 de fevereiro, a data está marcada para o dia 15 de mesmo mês.
O segundo tema da pauta foi sobre o reajuste da anuidade para os advogados. Por maioria de votos, foi aprovado o reajuste, que já vale a partir deste mês. A anuidade, que é de R$ 680,00 terá um acréscimo de 5,67%.
Após a aprovação do reajuste no valor da anuidade o conselho passou a discutir sobre o parcelamento da anuidade. Atualmente o valor pode ser parcelado em até três vezes.
A conselheira Andréia Araújo chegou a propor um parcelamento escalonado. “Minha ideia é que o parcelamento seja feito em seis vezes em janeiro, cinco em fevereiro, quatro em março e assim por diante”, ponderou a advogada. Sua proposta não foi aprovada. O conselheiro Sarmento levantou a possibilidade de um parcelamento em seis vezes em vez de três. Sem Êxito. 

'Estamos pensando no advogado que não pertence aos grandes escritórios', disse Sarmento
Após os debates, o formato em vigor foi aprovado novamente e os advogados continuam tendo a possibilidade de parcelar sua anuidade em até três vezes.
O terceiro e último ponto da reunião foi a escolha do novo presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Como só havia um candidato inscrito, Euzébio Holanda foi aclamado o novo presidente do TED.

Novo presidente agradece à sua eleição para presidir o TED
Ao final, o presidente da OAB Willian Guimaraes, o secretário geral Sebastião Júnior e a vice-presidente Eduarda Mourão Miranda reforçaram seus compromissos junto À Ordem e prometendo muita dedicação na nova missão de representar a advocacia do Piauí.

Presidente Willian Guimarães destaca empenho da diretoria apra 2013
FOTOS DO EVENTO


Clientes resistem a buscar advogados em redes sociais



Em 2012 o Facebook alcançou a marca de um bilhão de usuários ativos. Mesmo com tanto uso, são poucos aqueles que buscam por advogados em redes sociais. Pesquisa publicada pelo siteLawyerist.com, voltado para advogados, com 1.183 pessoas aponta que apenas 2,1% dos clientes procura por seus advogados nas redes sociais. A maior parte (34,6%), quando questionada sobre como procura advogados, respondeu o tradicional "pergunto a um amigo".
A pesquisa foi encomendada pelo escritório Moses & Rooth e mostra que, apesar da pouca popularidade de Facebook e Twitter para a missão, pesquisar em buscadores como Google, Bing e Yahoo é a segunda principal opção de clientes para encontrar advogados — 21,9%.
Nos escritórios também há resistência  ao uso de LinkedIn, Facebook, Twitter,  blogs e outras formas semelhantes de comunicação com possíveis clientes — mesmo em firmas de advocacia que têm obtido algum sucesso com a utilização de redes sociais. No entanto, é inegável que as redes sociais podem ser um dos pontos de contato entre advogados e pessoas que buscam por serviços jurídicos, afirmam os advogados Adrian Dayton (autor do livro "Mídia Social para Advogados") e Burton Taylor, em um artigo para o The National Law Journal.
A recomendação de pessoas conhecidas — entre as quais outros clientes e outros advogados — é uma das formas tradicionais de um cliente chegar a um advogado. As redes sociais incluem nesse grupo as pessoas desconhecidas e elementos que facilitam a busca pelo profissional certo. Os clientes têm acesso ao perfil do advogado, sua área de atuação (no Direito e na geografia), bem como a recomendações de clientes satisfeitos, grupos de discussões de notícias e temas de sua área, entre outras coisas. No Brasil, por exemplo, há advogados que usam as notícias publicadas pela revista Consultor Jurídico, relacionadas a sua área de atuação, para levantar temas de discussão no Facebook ou no LinkedIn.
Entre as redes sociais, o LinkedIn é o mais apropriado para profissionais. Ele foi criado especificamente para conectar clientes a profissionais. E é tido como uma ferramenta de negócios. O Twitter vem a seguir, embora tenha sido projetado para servir seguidores de um ídolo, de uma pessoa admirada, de uma empresa que produz algo interessante, por exemplo. Ou seguidores de um tema específico, dentro dos interesses de cada um. O Facebook se popularizou como meio de comunicação entre amigos e familiares, embora também possa ser explorados para fins profissionais.
O LinkedIn oferece espaços separados para advogados e para as firmas, onde cabem descrições da banca, de suas atividades e formas de contato. A rede também permite canalizar para a página do usuário o fluxo de comunicações do Twitter, Facebook e outros, para que juntar tudo em um único lugar. Um meio de se destacar na multidão é criar grupos de interesse ou aderir a algum já formado, porque eles são mais atraentes para todos os interessados. Perguntas serão feitas e precisam ser respondidas, mesmo que de tragam apenas uma orientação geral. É o que acontece no grupo "Advogados do Brasil", que reúne mais de 4 mil usuários e centralizou cerca de 50 debates sobre temas variados na última semana. A maior parte das discussões começa com o compartilhamento de uma notícia.
Bancas brasileiras, como a Pinheiro Neto, Verano Advogados, Tozzini Freire, Demarest e Almeida, Machado, Meyer, Sendacz e Opice e outras grandes têm páginas no Linkedin e as usam com perspectivas diferentes. A Pinheiro Neto e a Verano fizeram páginas em inglês. O Tozzine Freire tem uma página em português, na qual compartilha notícias com os clientes. Milhares de advogados também têm páginas no Linkedin, que parece ser uma ferramenta útil para advogados correspondentes, cujo grupo — "Advogados Correspondentes" — conta com 5.195 membros. Um problema é que alguns advogados não colocam em destaque a cidade (ou região) em que atuam. É sabido que 18% são de São Paulo, 10% do Rio de Janeiro, mas o perfil de 7% dos advogados diz apenas "Brasil".
O advogado Renato Opice Blum, especialista em Tecnologia da Informação, afirma que a busca de clientes por advogados através das redes sociais ainda engatinha no Brasil, mas que a busca de escritórios por futuros contratados é algo mais comum. "Há cerca de dois anos usamos o LinkedIn para buscar especialistas em Direito Eletrônico e Direito Digital", afirma o associado do Instituto dos Advogados de São Paulo.
Para encontrar os advogados que procura, a banca Opice Blum, Bruno, Abrusio e Vainzof monitora grupos específicos de discussão sobre temas de seu interesse, como "e-legal", com 70.514 integrantes, que discutem questões jurídicas relacionadas à tecnologia. 
RecomendaçõesOs autores do artigo no The National Law Journal afirmam que, segundo um estudo recente, 78% dos americanos usam as redes sociais para buscar os profissionais que precisam, entre os quais advogados. Mas, apesar da mídia social haver se transformado no novo filão de informações sobre advogados, muitos profissionais ainda não exploram suficientemente — ou de maneira adequada — esse meio para conquistar novos clientes. Por isso, recomendam:
• Encoraje seus advogados a manter perfis bem elaborados nas redes sociais, incluindo fotos, descrição do cargo ou trabalho, envolvimento em organizações, experiência e qualificações que possam parecer interessantes a possíveis clientes. A mídia social oferece oportunidades para que cada advogado expanda sua própria "marca" e, além disso, uma maneira inteiramente nova de interagir com colegas e clientes.
• Considere criar um blog escrito por uma equipe de advogados (ou com a ajuda de outros profissionais, como jornalistas especializados) e o atualize regularmente. Manter um blog pode ser trabalhoso, mas vale a pena, quando são lidos por possíveis clientes, por advogados da assessorias jurídicas de grandes organizações e pelos colegas que, vez ou outra, precisam recomendar um advogado especializado a seus próprios clientes.
• Use a página da firma no LinkedIn, Twitter e também do Facebook para divulgar notícias relacionadas às áreas de atuação do escritório ou sobre suas próprias realizações. E também para postar informações e comentários de seus advogados.
• Considere criar um grupo no LinkedIn que permita a advogados e clientes com interesses similares se congregarem. Selecione tópicos da área de especialização de seus advogados e os coloque em discussão. Encoraje seus advogados a participar de grupos já formados, para que possam aumentar a própria visibilidade.
• Sincronize as contas no LinkedIn e outras mídias sociais com seu serviço de e-mail, para racionalizar o fluxo de comunicações dos advogados com suas conexões.
• Peça aos advogados que compartilhem informações com possíveis clientes e com os colegas de profissão (notícias, artigos, um blog interessante, alertas aos clientes etc.).
• Da mesma forma que fazem com seus cartões de visita, os advogados precisam manter contato com as pessoas que conheceram, conectando-se com eles através das plataformas de mídia social que usam.
"Entenda que o uso das mídias sociais para conquistar clientes e desenvolver negócios é uma maratona, não uma corrida de 100 metros", dizem os autores. "Desenvolver relacionamentos é uma atividade continuada, que pode levar tempo. Mas é uma forma eficaz de fazer marketing, para advogados", afirmam.
ParticularidadeNos EUA, segundo os autores, assessores jurídicos de grandes empresas também recorrem às redes sociais como um recurso inicial para buscar advogados especializados. Eles pesquisaram assessores jurídicos de empresas listadas na Fortune 500 com contas no LinkedIn e descobriram que:
• Em 93% das empresas, líderes de departamentos jurídicos têm perfis no LinkedIn;
• 90% dos departamentos jurídicos usam ativamente o LinkedIn, sendo que dez ou mais advogados têm suas próprias contas;
• Os advogados em departamento jurídicos têm, em média, 250 conexões no LinkedIn.
Os autores também examinaram as atividades das 100 maiores firmas dos EUA, listadas na Am Law e descobriram que:
• Pelo menos 50% dos sócios das maiores bancas têm perfis no LinkedIn;
• 26% das bancas usam as páginas da firma no LinkedIn para compartilhar notícias;
• 32% das bancas usam links de seus sites para contas no LinkedIn;
• 28% das bancas produzem blogs regularmente em seus websites; 
Os autores acham que é pouco, mas os dados apontam que o uso das redes nos EUA é elevado se comparado com outros países. Estudo divulgado pela coluna Direito na Europa, da ConJur, mostra que, na Escócia, apenas 14% dos advogados postam algum comentário no Facebook pelo menos uma vez por semana e só 7% escrevem algo no Twitter. Cerca de 85% dos profissionais nunca sequer usou o Twitter. 

Advogados podem dar vistas em processos de Juizados



Na Lei 9.099/1995, que trata dos Juizados Especiais, não há exceção quanto à prerrogativa do advogado de dar vista aos processos judiciais ou administrativos, em cartório ou na repartição, ou em retirá-los pelos prazos legais. Ou, ainda, de requerer vista dos autos de qualquer processo pelo prazo de cinco dias.
Com esse entendimento, o Conselho Nacional de Justiça acatou, na íntegra, no dia 20 de dezembro,Representação encaminhada pela OAB gaúcha, pedindo a regulamentação da carga de autos nos Juizados Especiais Cíveis.
A vista de processos é dificultada por dois Provimentos editados pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, de números 16/2006 e 12/2008. A carga é permitida apenas para apresentar razões e contrarrazões. Fora dessas hipóteses, só é permitida para retirada de fotocópia, mediante retenção de documentos do advogado e por duas horas apenas.
O conselheiro Sílvio Luís Ferreira da Rocha, que analisou o mérito da Representação, informou, na decisão, que o TJ-RS deverá ser intimado após o recesso do Judiciário para tomar as medidas necessárias para anular os provimentos. Ou seja, a sua Corregedoria-Geral de Justiça ‘‘deverá adaptar o conteúdo dos provimentos impugnados ao determinado neste procedimento’’.
Cidadania respeitada
O presidente da Comissão de Acesso à Justiça da OAB-RS, Cesar Souza, disse que só recorreu ao CNJ depois de esgotar todas as possibilidades de alterar o teor dos provimentos junto à corte. Segundo ele, as normas atentam contra as prerrogativas da advocacia e, na prática, significam cerceamento da defesa.
"Estava sendo impossível atender os processos com consulta apenas em balcão. É evidente que não há perfeito acesso à Justiça e nem ampla defesa quando o advogado não pode consultar e examinar os autos com calma e tranquilidade, junto a seu escritório, muitas vezes à noite, nos fins de semana etc", justificou.
Souza classificou a decisão do CNJ como uma manifestação de respeito à cidadania. "Como sempre, a luta do advogado, na preservação de suas prerrogativas, não visa interesse pessoal, mas sim o de seu cliente e, por consequência, o da cidadania."
Clique aqui para ler a Representação da OAB gaúcha.
Clique aqui para ler a decisão do CNJ.
Clique aqui e aqui para ler os Provimentos da Corregedoria
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Conheça os segredos dos escritórios bem-sucedidos




Advogados bem-sucedidos dão pouca importância à declaração, quando a ouvem, de que "o mar não está para peixe". Quem diz isso tem um problema de visão. Pequenas firmas de advocacia conseguem prosperar, mesmo quando a situação econômica do país não transpira entusiasmo ou a concorrência no mercado jurídico parece intimidadora, especialmente por causa da atuação agressiva das bancas de médio e grande portes. Na verdade, não se importam com isso, porque conseguem nadar com os tubarões.
Será que elas sabem de alguma coisa que nós não sabemos? "Provavelmente", responde o advogado Ward Bower, que também é consultor de firmas de advocacia. Ele pediu a advogados bem-sucedidos para identificar dez práticas simples que garantiram o sucesso de suas pequenas firmas. Eis as recomendações que ouviu:
1. Convide um advogado para almoçar. Não alguém do escritório ou de seu círculo íntimo de relacionamentos. Que seja alguém com uma das duas características: a) um advogado de outra pequena firma de advocacia, que atue em área diferente, para começar a criar uma rede de referências profissionais — clientes tendem a receber bem indicações inter pares; b) um advogado que atua em uma mesma área (ou com algum ponto de interseção), de outra cidade ou região, para desenvolver uma rede de correspondentes. Faça isso com vários advogados e registre quem recomenda quem. Isso é bom para todos os advogados participantes e mais ainda para os clientes.
2. Telefone para seus colegas de faculdade ou se encontre com eles. Os laços de amizade formados nas faculdades são, em geral, muito fortes. Faça um esforço para incluí-los em sua rede de referências. E não se esqueça dos profissionais de outras áreas, de seu círculo de amizade, bem como de seus familiares e amigos. Ao viajar para outras cidades, não deixe de visitar as sucursais da Ordem e associações de advogados. Compareça a eventos em outras cidades e se entenda com prováveis correspondentes.
3. Faça do seu nome uma marca. Aproxime-se dos jornalistas interessados nos assuntos que você domina. Ninguém estará lhe fazendo favor. A imprensa precisa de conteúdo para veicular e você tem. Faça o possível para que suas declarações, suas notícias, artigos e press releases saiam nos jornais. Use serviços de assessoria de imprensa que não apenas distribuam seu press releases e artigos, mas também que o coloquem em contato com repórteres que cobrem a área do Direito. É importante que a assessoria de imprensa consiga colocar seu nome, telefone e área de especialização na lista de contatos dos repórteres. Sua "fama" deve se relacionar a uma área específica do Direito. Jornalistas gostam de falar com "autoridades no assunto". Portanto, não se apresente como um advogado generalista, pau-para-toda-obra.
Acompanhe também o noticiário e esteja pronto para opinar, quando surgirem oportunidades. Escreva artigos e encaminhe para publicação em revistas especializadas e jornais locais, de preferência sobre um assunto do momento, pensando em seu "público" e nos colegas de profissão, que podem recomendá-lo quando um cliente precisar de um especialista. Privilegie os veículos lidos por seu público alvo, mas não selecione demais. Jornalismo é ofício de alta rotatividade. Anuncie em publicações que possam lhe dar algum tipo de retorno profissional.
A cobertura da imprensa lhe dá mais visibilidade e legitimidade. Assenta seu perfil a um grande público em suas áreas de interesse e o ajuda a alcançar o "reconhecimento da marca" — ou o nome da firma. "Nomes de marca" reconhecidos não apenas atraem mais clientes, mas também aumentam o valor dos honorários dos advogados.
4. Dê sua contribuição à comunidade. Mesmo em cidades grandes — melhor ainda em cidades menores —, o advogado deve escolher uma ou duas atividades ou organizações às quais deve aderir e contribuir ativamente, de preferência ocupando uma posição de liderança. O comprometimento com a organização comunitária deve ser genuíno. Não é necessário "vender" os próprios serviços. As referências vão surgir naturalmente. Em firmas com dois ou mais sócios, os advogados devem concordar em estabelecer como meta ganhar proeminência em organizações diferentes, para maximizar a presença no mercado local.
5. Participe das atividades das seccionais da Ordem dos Advogados e nas associações de advogados. Isso é fundamental. A diretoria das entidades, bem como seus funcionários e os advogados que as frequentam podem se tornar ótimas fontes de referência. Cursos oferecidos por essas entidades são úteis para a educação continuada. Mas, muitas vezes, sua maior utilidade é a formação de laços bem atados de cooperação mútua entre os frequentadores do curso. Há advogados que frequentam esses cursos — e outros eventos de suas entidades — com o objetivo principal de fazer relacionamentos proveitosos.
6. Frequente associações ou qualquer tipo de organização que congreguem possíveis clientes de sua prática profissional. Participe ativamente e entenda as atividades, os negócios de seus possíveis clientes, não só os aspectos jurídicos de suas operações. E os ajude a encontrar soluções para seus problemas, sejam quais forem. Também nesse caso, não é preciso "vender" seus serviços profissionais. Sua participação ativa na vida deles cuida disso.
O advogado de sucesso, mais que o homem comum, é um ser social. Mas, em matéria de círculos sociais, deve preferir o dos possíveis clientes. Colegas de profissão recomendam, preferencialmente, especialistas — ou advogados que operam em uma área do Direito na qual ninguém do escritório se dispõe a atuar. Os colegas devem fazer parte de seu círculo profissional. Vale a pena incluir em seu círculo social advogados de assessorias jurídicas de grandes empresas. Sempre há chances de que contratem advogados especializados para cuidar de um ou outro problema jurídico da empresa.
7. Explore a mina de questões jurídicas de seus atuais clientes. Especialistas de marketing dizem que 80% do potencial de desenvolvimento de negócios de uma firma de advocacia vem de clientes existentes, restando, portanto, apenas 20% de novos clientes. Isto é, o maior potencial de novos casos está associado aos velhos casos. A técnica é particularmente boa para firmas que têm advogados que atuam em áreas diferentes do Direito — e para o desenvolvimento de rede de referências.
Como a mesma pessoa pode ter problemas tributários, trabalhistas, bancários, de família, criminais etc., que seja você a primeira fonte de consulta para qualquer deles, o "conselheiro" número um. Para isso, é preciso estar presente. Clientes tendem a preferir advogados que assumem o papel de "conselheiro", a advogados que só trabalham sob encomenda. E não é apenas a contratação de novos serviços que está em jogo. Clientes satisfeitos são fontes preciosas de referência.
Há advogados que atuam na área empresarial que conhecem os negócios e a vida do empresário, desde seu plano de negócios ao sistema de produção, o produto, a logística, a distribuição, as relações trabalhistas — e o problema de um familiar com drogas. São profissionais praticamente insubstituíveis.
8. Aprenda a dizer não. Ao lidar com casos novos, recuse clientes que trazem problemas jurídicos fora de sua área de atuação e clientes que podem pagar seus honorários, mas que não querem pagar valores justos ou que podem trazer problemas nesse quesito. No mercado de hoje, clientes relativamente bem informados não querem trabalhar com profissionais generalistas. Querem especialistas. Em qualquer análise, o especialista terá sempre a preferência.
As pequenas firmas devem desenvolver seu bom conceito em torno de sua especialização. Nesse caso, é mais fácil definir o que é ou não é aceitável por exclusão, com a simples recusa de casos que estão fora da área de atuação ou fora do segmento de mercado, preferindo-se recomendar alguém da área. Quanto mais estreito e refinado for o nicho da firma, melhor será seu conceito entre os clientes e também na comunidade jurídica. Qualquer profissional que seja do tipo "pau-para-toda-obra" pode ser útil em algumas circunstâncias, mas clientes de peso querem o melhor da praça, quando buscam solução para um problema específico.
Se o advogado sabe que terá dificuldades para receber seus honorários, não deve investir tempo e recursos da firma em seu caso. Melhor recusá-lo. E melhor é usar o tempo disponível para prestar serviços pro bono a quem realmente não pode pagar um advogado. A prestação de serviços pro bono traz diversos benefícios para o advogado e para a firma, em termos de reconhecimento pelos tribunais, pela comunidade jurídica, por organizações, algumas vezes pela imprensa e pelo público — e também pelos clientes da firma, se ficam sabendo do caso.
9. Reinvista em sua firma. Advogados autônomos e pequenas firmas devem investir pelo menos 5% de suas receitas em atividades de marketing, desenvolvimento de negócios, reconhecimento de marca, assessoria de imprensa, patrocínio de eventos ou publicações etc. A atividade de marketingmais apropriada varia conforme a área de atuação do advogado ou da firma. Outro investimento que deve estar entre as principais prioridades é em tecnologia. Tecnologias facilitam o trabalho, aumentam a produtividade e demonstram aos clientes que o escritório está na linha de frente do mercado. Muitos clientes esperam que seus advogados sejam bons em computação.
10. Administre bem os aspectos financeiros e econômicos da firma. Faça e obedeça orçamentos, para adequar seus custos aos recursos financeiros disponíveis. No caso de advogados autônomos, a soma das despesas deve ser igual ou menor que 50% das receitas. No caso de pequenas firmas, deve ser igual ou menor que 45%. Administre da forma mais eficiência possível as contas a pagar e a receber.
Em firmas de pequeno porte, o trabalho duro é inevitável, mas garante um rendimento satisfatório. Em geral, um advogado pode trabalhar até 2,5 mil horas por ano (50 a 60 horas por semana), contanto as atividades fora da firma. Desse tempo, 1,4 mil horas (28 a 30 horas por semana) são dedicadas a clientes; 600 horas são dedicadas a atividades de marketing, atividades profissionais, serviço comunitário e serviço pro bono. Das 500 horas restantes, 200 vão para a administração do escritório, 200 para escrever, estudar e fazer cursos e 100 para tarefas administrativas e outras obrigações.


Advogados se recusam a defender detidos por estupro coletivo na Índia



Advogados do distrito onde uma jovem estudante foi estuprada por vários homens disseram que não representarão os seis detidos (um deles é adolescente) acusados pelo ataque, que culminou com a morte da mulher de 23 anos, de acordo com a CNN.
Os 11 advogados que compõem o conselho executivo da Associação Saket Bar afirmaram nessa quarta-feira não representar os acusados por conta da natureza do crime, que provocou protestos por todo o país e chamou a atenção mundial.
Além disso, a associação apelou para que seus 7 mil membros também se recusem a defender os acusados, de acordo com o seu presidente, Rajpal Kasana. “Nós não estamos pegando esse caso por razões de humanidade”, disse.
O boicote da organização, no entanto, não significa que os homens detidos por conta do estupro não terão defesa no julgamento. Advogados de outros distritos, ou aqueles apontados pela justiça, podem cumprir a função.
"Queremos deixar claro que não vamos obstruir ou atrapalhar qualquer advogado que seja apontado pela justiça ou que decida representar os acusados", afirmou Kasana, que acrescentou que eles sabem que os detidos devem ser representados por alguém.
O apelo para que advogados locais não representem os acusados pelo crime não tem precedentes, de acordo com a CNN, mas justificado "porque todos estão emocionalmente ligados ao caso", declarou Rajpal Kasana.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

DR ERIVELTON LAGO- O ADVOGADO QUE ENTREVISTOU JESUS CRISTO NA NOITE QUE ANTECEDEU A SUA PRISÃO E SUA MORTE



Na atualidade, muito se discute acerca das eventuais influências filosóficas que propugnaram pelo surgimento da ideia de direitos humanos. Sem querer adentrar esse mérito, é importante dizer, todavia, que a tônica do respeito ao ser humano encontra ressonância no âmago da mensagem cristã.

A trajetória de Jesus, já no seu tempo, foi responsável por grandes controvérsias entre aqueles que se proclamavam os detentores do saber no campo do Direito Hebraico, e, para ser mais específico, entre os doutores de uma lei eterna e imutável, a qual fundamentava-se na crença de uma revelação divina. Neste contexto, foram notórios os conflitos ideológicos resultantes travados com alguns fariseus que acompanhavam a jornada messiânica de Jesus.
Afinal, Jesus viveu num momento conturbado na trajetória de sua nação. A presença estrangeira, o nacionalismo dos zelotes, a guerrilha dos sicários. A aristocracia dos saduceus. A sabedoria religiosa dos fariseus. A sabedoria de Jesus explícita nessa entrevista nas horas que precederam a sua prisão e a sua morte.Advogado Erivelton: Jesus, eu gostaria de ser o seu Advogado, entretanto, sei que não posso, pois o seu advogado é o seu próprio pai. De qualquer modo, vim aqui com o intuito de, pelo menos, entrevistá-lo. Posso?

O JULGAMENTO DE JESUS PELO SINÉDRIO

JESUS: Sim, você pode me entrevistar, podemos conversar um pouco antes que eles cheguem para me prender

Advogado Erivelton: Eu gostaria que você falasse sobre Israel, sobre essa terra tão cobiçada

JESUS: Israel é uma terra de oliveiras, de pedras, de estrelas e de pastores, uma terra onde as tâmaras secam sobre a palha dos celeiros, uma terra de angústia onde os corações amadurecem à espera do salvador, uma terra de laranja, de limão e de esperança. Israel é meu jardim, o jardim onde nasci este mesmo jardim onde em breve vou morrer

Advogado Erivelton: Como você sabe que vai morrer?

JESUS: Eu sei, dentro de algumas horas eles virão me buscar. Eles já se preparam. Os soldados limpam as suas armas. Os mensageiros se espalham nas ruas escuras para convocar o tribunal. O Marceneiro acaricia a cruz sobre a qual, sem dúvida, vou sangrar bastante amanhã. As bocas cochicham, Jerusalém inteira já sabe que vou ser detido.

Advogado Erivelton: Vão surpreender você?

JESUS: Eles pensam que vão me surpreender, mas eu os espero. Eles procuram um acusado, encontrarão um cúmplice

Advogado Erivelton: O que você pede a Deus nessa hora?

JESUS: Peço que Deus faça com que eles sejam moderados comigo; que Deus os tornem tolos, violentos e diligentes. Quero que Deus me Poupe do cansaço de ter que os excitar contra mim! que eles me matem depressa! e de maneira precisa.

Advogado Erivelton: Por que isso está acontecendo com você? O que foi que você fez de tão grave para ser preso?

JESUS: Certo, eu bem que poderia estar por aí, esta noite, a festejar numa taberna, em meio aos tantos peregrinos, de meu país, como todo judeu na Páscoa. Contudo, estou aqui, quando poderia estar retornando domingo a Nazaré com a alegria tranqüila do dever cumprido.

Advogado Erivelton: Qual é a acusação contra você?

JESUS: O sinédrio me acusa de blasfêmia ou heresia. O Pretório Romano me acusa de sedição. Os romanos acham que eu sou uma pessoa sediciosa em potencial, alguém capaz de liderar uma insurreição contra a presença das forças de Roma no território da Judéia. Já o sinédrio me acusa de blasfêmia pelo fato de eu dizer que sou Filho de Deus, o messias de Israel.

Advogado Erivelton: Você já sabe a composição do Sinédrio, o Tribunal do Júri religioso?

JESUS: Eu sei que o Tribunal é composto por 71 anciãos comandado por Caifás que certamente irá me interrogar. Já me certifiquei de tudo

Advogado Erivelton: O que você vai responder a Caifás?

JESUS:: Tudo vai depender do que ele me perguntar

Advogado Erivelton: Eu acho que Caifás vai querer conhecer primeiro a essência doutrinária que fundamenta a sua pregação, pois no momento você é o mais célebre dentre os Galileus

JESUS: Eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde se reúnem todos os judeus; nada falei às escondidas. Por que ele irá me perguntar sobre minha doutrina se falei abertamente ao mundo?

Advogado Erivelton: Jesus, interrogatório é isso. Eles perguntam sobre os fatos, sobre sua vida pregressa, residência, meio de vida, profissão, dados sociais e oportunidades sociais

JESUS: A nossa lei é mais objetiva, vão entrar direto no assunto e me forçar a confessar crime contra Roma ou blasfêmia contra a lei de Israel

Advogado Erivelton: Você tem o direito de ficar calado
JESUS Pois é, eu vou mandar eles perguntarem aos que me ouviram falar, eles sabem o que eu disse


Advogado Erivelton: Ficar calado diante dos Juízes no momento de um interrogatório pode ser interpretado por eles como sinal de arrogância. Eles podem esbofeteá-lo
JESUS: Eles não irão me bater pelo meu silêncio, mas pelas minhas palavras sobre a verdade e o bem
Advogado Erivelton: Se você falar, o que dirá aos sacerdotes se eles perguntarem se realmente você é o Messias filho do bendito Deus?
JESUS: Responderei que eu sou, pois todos irão ver o filho do homem sentado à direita do poderoso e vindo com as nuvens do céu
Advogado Erivelton: Essa resposta é uma confissão de blasfêmia aos ouvidos do Sinédrio. Você não pode responder dessa forma, pois é condenação certa
JESUS: O que houver de ser será
Advogado Erivelton: Você sabe que vai ser interrogado por Herodes Antipas.
JESUS: Sei, até já estive com ele certa oportunidade
Advogado Erivelton: junto com Herodes deverão estar os chefes dos Sacerdotes e os Escribas, o que você dirá a eles?
JESUS: diante deles me manterei em absoluto silêncio
Advogado Erivelton: Você sabia que no interrogatório criminal o silêncio poderá ser interpretado como atitude de desprezo pela figura do seu interlocutor?
JESUS: Sei perfeitamente, e o primeiro gesto de escárnio contra mim será a veste principesca com a qual Herodes envolverá o meu corpo. Eles sentir-se-ão diminuídos pelo meu suposto silêncio de desdém, mas às vezes o silêncio diz mais do que mil palavras

A INFÂNCIA DE JESUS, AS TRAVESSURAS DO MENINO  E A MORTE DE JOSÉ


Advogado Erivelton: Deixando um pouco o julgamento de lado, eu pergunto: como foi a sua infância?
JESUS: Minha infância foi muito boa, vivi uma infância sonhadora. Em Nazaré, a cada noite, eu voava por cima das colinas e dos campos. Quando todo mundo dormia, eu passava pela porta silenciosa, abria os braços, pegava um impulso e meu corpo se elevava.
Advogado Erivelton: Você voava?
JESUS: Sim, eu voava. Eu me lembro muito bem da resistência do ar sob meus cotovelos, um ar mais impacto, mais sólido e consistente que a água, um ar exalando cheiro de jasmins que me levava para onde eu queria sem um sopro de vento
Advogado Erivelton: Você usava apenas os braços?
JESUS: Não, às vezes, por preguiça, eu arrastava a minha esteira até a soleira e sobrevoava o campo cinzento, permanecendo estendido sobre ela. Os burros levantavam a cabeça, seus belos olhos negros de moça olhavam passar meu barco em meio às estrelas. Vivi e sonhei. Hoje estou aqui. Eis que esse sonho me reduziu: Esperar nesse jardim uma morte que eu temo.
Advogado Erivelton: Conte uma travessura do seu tempo de criança?
JESUS: Um dia saímos da escola eu, Mochéh, Ram e Késed, éramos inseparáveis. Na pedreira de Gzeth, improvisamos um pique bem alto...eu experimentava como nunca a vontade de ganhar
Advogado Erivelton: E aí?
JESUS: E aí é que eu comecei a escalar uma imensa ponta rochosa, os apoios se encadeavam, eu nem mesmo respirava mais, subia, subia e me encontrei sobre a plataforma, dezesseis côvados acima do chão. Embaixo, meus camaradas não eram mais que um barrete de cabelos com pequenas pernas em volta. Eles não me achavam ninguém sonhava em levantar a cabeça de tão alto que eu estava.
Advogado Erivelton: Côvados? Dezesseis côvados? Isso corresponde a quantos metros?
JESUS: Cerca de 10 metros e meio
Advogado Erivelton: Meu Deus! E aí o que aconteceu!?
JESUS: Eu estava tão inacessível que nem participava mais do jogo. Dei um grito eles olharam, me viram no alto e me aplaudiram: Bravo, Jesus! Bravo!
Advogado Erivelton: Eles aplaudiram você?
JESUS: Sim, eles nunca teriam me considerado capaz de subir tão alto
Advogado Erivelton: E depois, o que aconteceu? Você desceu e foi embora para casa com seus amigos?
JESUS: Não, foi aí que acho que pela primeira vez conheci o medo
Advogado Erivelton: Como assim?
JESUS: Késed gritou: agora desça daí vamos embora. Eu estava de cócora em cima da pedreira, me levantei para descer e ali o medo me dominou. Não via absolutamente como voltar...ajoelhado, apalpei o rochedo pelo qual tinha vindo: ele era liso. Eu suava frio. Como fazer? Como descer?
Advogado Erivelton: Então, você pulou? você voou?
JESUS: Sim, eu me lembrei, posso voar como faço toda noite
Advogado Erivelton: então?!
JESUS: Eu me aproximei da borda do imenso rochedo, os braços separados...O ar não estava denso, líquido sobre os meus braços, como na minha lembrança...eu não me sentia mais sendo levado, ao contrário, eram meus ombros, somente os meus ombros, que sustentavam penosamente o peso dos meus braços estendidos...eu estava fundido no bronze frio
Advogado Erivelton: Você não conseguiu voar nesse dia?
JESUS: Pois é, nos dias anteriores bastava que eu erguesse ligeiramente os meus calcanhares e logo voava, mas naquele dia na pedreira, meus calcanhares, rebeldes, permaneceram grudados no monte. Se eu os levantasse, tinha a sensação de que simplesmente cairia. Por que eu estava de repente tão pesado?
Advogado Erivelton: Você chegou a duvidar do poder que tinha?
JESUS: Sim, a dúvida abateu-se sobre mim, me pesando nos ombros. Naquele momento passei a me perguntar: Será que já voei algum dia? Será que eram sonhos? Tudo se embaralhou em minha cabeça de criança, o chão se aproximou
Advogado Erivelton: Você pulou, homem de Deus?
JESUS: Não pulei, contudo perdi a consciência e quando acordei estava nas costas de meu pai, José, que Mochéh tinha ido buscar em casa às pressas
Advogado Erivelton: Seu pai brigou com você por ter subido 16 côvados e depois não saber como descer? Acho que eu também já fiz isso um dia!
JESUS: Meu pai era assim: Qualquer outro teria me repreendido, meu pai me abraçava...desceu comigo do rochedo sabendo encontrar os apoios imperceptíveis. Ao chegar ao chão firme ele me disse o seguinte: Ao menos você aprendeu alguma coisa hoje
Advogado Erivelton: O que você respondeu para ele?
Jesus: Eu apenas sorri para ele. Não entendi de imediato o que havia aprendido
Advogado Erivelton: E hoje, aos 33 anos de idade, você já entendeu o que aprendeu naquele dia?
JESUS: Agora eu sei: Eu tinha acabado de deixar a infância. Eu desenredei os fios dos sonhos e da realidade, descobri que havia de um lado o sonho, em que eu planava melhor do que uma ave de rapina, e de outro lado o mundo verdadeiro em que vivo agora, duro como as rochas sobre as quais eu quase havia me esborrachado
Advogado Erivelton: O que mais você aprendeu?
JESUS: Eu tinha percebido também que podia morrer. Eu! Jesus! Normalmente, a morte não me preocupava. Eu via os cadáveres na cozinha e nos pátios das fazendas, mas e daí? Eram animais! De vez em quando alguém me anunciava que uma tia, um tio tinham morrido, mas e daí? Eles eram velhos! Coisa que eu não era e nem seria jamais. Nem bicho nem velho
Advogado Erivelton: Como você se sentia? Como se sentia a criança Jesus?
JESUS: Eu me sentia como alguém que havia partido para viver para sempre...eu era eterno, eu não sentia a morte em lugar nenhum em mim...Eu não tinha nada a ver com a morte. E, no entanto, ali, gato empoleirado sobre o rochedo, eu acabara de sentir seu sopro úmido na minha nuca
Advogado Erivelton: E depois da travessura, como foram os dias seguintes?
JESUS: Nos meses que se seguiram, abri os olhos que preferia manter fechados. Não, eu não tinha todos os poderes. Não, eu não sabia tudo. Não, talvez eu não fosse imortal. Em uma palavra: eu não era Deus
Advogado Eriveltin: Então você descobriu que não era Deus?
JESUS: Definitivamente. Como todas as crianças, eu havia inicialmente me confundido com Deus. Até os sete anos, havia ignorado a resistência do mundo. Eu me sentia rei, todo-poderoso, onisciente e imortal...Achar que é Deus é a tendência mais comum entre as crianças não-derrotadas
Advogado Erivelton: Então o que foi crescer para você?
JESUSCrescer foi desmentir. Crescer foi uma queda. Eu só aprendi a condição de adulto pelas feridas, pelas violências, pelas desilusões e pelos compromissos. O universo havia se desencantado. Pois o que é um homem? Simplesmente alguém-que-não-pode...que-não-pode saber tudo. Que-não-pode fazer tudo. Que –não-pode não morrer
Advogado Erivelton: O conhecimento aprisionou você?
JESUS: Não sei, contudo estou certo de que o conhecimento das minhas limitações rachou o ovo da minha infância: A lucidez me fez crescer, quer dizer, diminuir. Aos sete anos deixei definitivamente de ser Deus.
Advogado Erivelton: Bem, essa é a noite da sua prisão, como você se sente?
JESUS: Como me sinto na noite da minha prisão? Eu me sinto confuso e cheio de dúvidas. Sei que o jardim está sossegado nesta noite, banal como uma noite de primavera. Os grilos cantam o amor. Os meus  discípulos dormem. Os temores que sinto não encontram eco no ar. Fico a me perguntar: Será que a corte ainda não saiu de Jerusalém? Será que Judas ficou com medo e se retratou? Vamos Judas me denuncie logo! Confirme que sou um impostor, que me julgo o messias, que desejo tirar-lhes o poder. Responsabilize-me. Confirme as suas piores suspeitas. Vá Judas, depressa. Para eles a história deve acabar. Para mim é hora dela começar
Advogado Erivelton: Como você chegou até aqui nesse momento crucial antes do seu julgamento por Roma e Pelo sinédrio?
JESUS: Sempre foram os outros que me expuseram o meu destino; eles sabiam ler o pergaminho que eu era e eu mesmo não decifrava
Advogado Erivelton: como assim?
JESUS: Sempre foram os outros que me diagnosticavam, como se determinar uma doença. Eram perguntas que me empurravam para um lado e para outro:–Jesus o que você quer ser mais tarde? -O que queres fazer mais tarde? -Você não quer ser Rabino?
Advogado Erivelton: E seu pai José fazia também tais perguntas?
JESUS: Sim, um dia estávamos na marcenaria trabalhando e ele me perguntou o que eu queria fazer mais tarde. Respondi: não sei...talvez um marceneiro como você. Ele então me perguntou: E se você se tornasse um Rabino? Olhei para meu pai sem compreender. Rabino? Eu não quero ser Rabino. Já temos o Rabino Isaac na aldeia. Depois pai, ninguém se torna Rabino. Rabino nasce feito. Eu sou apenas Jesus de Nazaré, ou seja, nada de grande coisa. Meu pai me disse em seguida: Reflita bem, Jesus!
Advogado Erivelton: Você freqüentou Escola Bíblica?
JESUS: Sim, mas os meus dias na escola não se passavam sem contrariedades. Mochéh, Ram e Késed nunca exigiam explicações; eles retinham sem hesitar aquilo que nos davam para aprender. A mim me chamavam de “Jesus das mil perguntas”. Tudo me provocava interrogações. Por que não trabalhar no dia de sábado? Por que não comer carne de porco? Por que Deus punia em vez de perdoar? As respostas raramente me pareciam satisfatórias, nosso instrutor quase sempre se entrincheirava por trás de um “é a lei” definitivo
Advogado Erivelton: O que você perguntava?
JESUS: Eu perguntava: o que justifica a lei? O que fundamenta a tradição?
Advogado Erivelton: Os instrutores respondiam a estas perguntas?
JESUS: Eles enrolavam... ás vezes me proibiam de ter a palavra por um dia inteiro. Aí eu ficava apenas escutando e muito confuso, pois para mim era necessário que tudo tivesse um sentido. Eu tinha muita sede de saber
Advogado Erivelton: Como era a sua relação com o Rabino Isaac?
JESUS: O Rabino Isaac tinha uma boa opinião a meu respeito. Uma noite ele foi à nossa casa e falou para o meu pai que eu só encontraria a paz numa atividade religiosa. Essa observação do Rabino me impressionou. A paz? Eu procurar a paz? Aí mais uma vez meu pai me veio com aquela pergunta: “E se você se tornasse um Rabino?”
Advogado: Você fez o Gosto do seu pai?
JESUS : Essa pergunta me entristece
Advogado Erivelton: desculpe!
JESUS: Mas eu respondo a sua pergunta. Eu não fiz o gosto do meu pai José...pouco depois daquela conversa meu pai morreu. Ele caiu de repente, sob o sol do meio-dia quando entregava um baú do outro lado da aldeia; seu coração foi interrompido na beira do caminho
Advogado Erivelton: Como você superou a morte do seu pai?
JESUS: Chorei perdidamente durante três longos meses. Meus irmãos e minhas irmãs haviam secado as suas lágrimas, minha mãe também, muito preocupada em não nos deixar tristes, mas eu não podia me conter; eu chorava o ausente, claro, esse pai de coração mais terno do que a madeira que ele trabalhava
Advogado Erivelton: Por que você chorou mais do que os outros irmãos?
JESUS: Não sei, talvez por nunca ter dito a ele que o amava muito. Cheguei a desejar que, em lugar daquela morte rápida, ele tivesse sofrido uma longa agonia: Ao menos eu poderia ter cuidado dele e ter mais tempo para dizer-lhe repetidamente que o amava. Diria isso até o seu último suspiro...
Advogado Erivelton: Quando o choro passou?
JESUS: no dia em que parei de soluçar eu não era mais o mesmo. Eu não podia encontrar uma pessoa sem dizer a ela que a amava. O primeiro a quem infligi essa declaração foi ao meu amigo Mochéh, ele não gostou, ficou bravo comigo. Me retrucou dizendo: Por que você diz que me ama? Não se diz essas coisas! Só se ama mulheres! Minha mãe tentou me explicar que havia uma lei não escrita que fazia calar os sentimentos
-Qual lei, perguntei?
-O pudor.
-Mas mamãe, não há tempo a perder para dizer às pessoas que as amamos: Todas elas podem morrer, não? Mas ela chorava e apaziguava meus pensamentos
-Meu pequeno Jesus-dizia ela-, não se deve amar demais. Senão você vai sofrer muito.
Advogado Erivelton: Você sofria?
JESUS: Eu não sofria, eu ficava encolerizado com o que eu via
Advogado Erivelto: Por exemplo?
JESUS: Judith e Rachel...
Advogado Erivelton: O que têm Elas?
JESUS: Judith, nossa vizinha, tinha 18 anos de idade e estava apaixonada por um senhor sírio; quando ele veio pedi-la a casamento, os pais de Judith recusaram: A filha deles não se casaria com um homem que não respeita a lei judaica. Trancaram a filha em casa. Uma semana depois, Judith se enforcou. Coisas como essas sempre me encolerizam, não posso concordar com uma lei como esta
Advogado Erivelton : E Rachel, o que aconteceu com ela?
JESUS: Rachel havia se casado à força com um rico proprietário de gado, um homem mais velho do que ela, barrigudo, bundudo, peludo, avermelhado, enorme, intolerante, que batia nela. Um dia ele a encontrou nos braços de um jovem pastor da idade dela. Toda a aldeia apedrejou a adúltera. Ela levou duas horas para morrer das pedradas. Duas horas. Centenas de pedras sobre uma jovem de 20 anos de idade. Rachel. Duas horas. É assim que é a lei de Israel defende o casamento contrário à ordem natural das coisas. Todos esses crimes tinham um nome: A lei. A lei tinha um autor, Deus. Decidi que não amaria mais a Deus. Eu responsabilizava Deus por todas as tolices, todas as prevaricações dos homens; eu ansiava por um mundo mais justo, mais terno, eu voltava o mundo contra Deus, como prova de sua nulidade ou preguiça. Eu instruía o seu processo da manhã à noite
Advogado Erivelton: Por que você começou a voltar o universo contra Deus?
JESUS: O mundo me revoltava. Eu esperava que ele fosse bonito como uma página de escritura, harmonioso como um canto de prece, eu esperava que Deus fosse um artesão melhor, mais cuidadoso, mais atento, que cuidaria tanto dos detalhes como do todo, um Deus que fosse preocupado com a justiça e com o amor. Mas Deus não cumpria a sua promessa
Advogado Erivelton: você me dá medo Jesus. A sua cólera é uma espécie de indisposição sistemática para injustiça, você não acha?
JESUS: Acho, mas diante de tanto mal, acho que a cólera não vai mais me abandonar. De todos os sentimentos, aquele que mais experimentei durante a primeira parte da minha vida foi, sem dúvida, a cólera, uma espécie de indisposição para tudo que conduz à injustiça. Me recuso a pactuar com o mal, eu não aceito as coisas como elas são, eu as vejo como elas devem ser. Pensando como penso, o que irão fazer de mim?
Advogado Erivelton: Talvez façam de você um Rabino
JESUS: Não é disso que eu falo. Eu falo das minhas ideias sobre o Deus que proíbe, sobre a Roma que ocupa a minha casa, sobre os sábados que não posso curar o meu irmão. É disso que falo. Você entendeu?
Advogado Erivelton: Entendi.
JESUS: Vamos beber alguma coisa?
Advogado Erivelton: prefiro vinho
JESUS: Prefiro água. A água é a fonte da vida, da misericórdia e do perdão. Ainda não chegou a hora que terei que beber do meu próprio sangue
Advogado Erivelton: Água, então?
JESUS: Sim
Advogado Erivelton: Depois da morte do seu pai, como ficou a marcenaria?
JESUS: Reabri a oficina do meu pai. Eu era o irmão mais velho, devia sustentar meus irmãos e irmãs. Eu continuei a alisar as tábuas para fazer os baús, as portas, os madeiramentos, as mesas; não o fazia tão bem quanto ele, mas, único marceneiro da aldeia não tinha concorrência. A oficina passou a ser, segundo as palavras da minha mãe, o templo das lágrimas. Diante da mínima contrariedade, os habitantes da aldeia vinham me contar das dificuldades
Advogado Erivelton : O que você dizia para essas pessoas?
JESUS: Eu não lhes dizia nada; escutava, escutava durante horas, como um simples ouvido; no fim, encontrava algumas palavras gentis que a situação deles me inspirava; eles partiam aliviados. Isso devia torná-los indulgentes com as minhas tábuas mal-alinhadas
Advogado Erivelton: Você os curava de alguma doença seja corporal ou espiritual?
JESUS: Na verdade essa conversa com eles me fazia bem. Era bom para eles e bom para mim, pois aliviava a minha cólera. Ao tentar levar os nazarenos para uma região de paz e amor, eu mesmo ia para lá. Minha revolta se apagava diante da necessidade de continuar a viver, de ajudar o outro a viver. Eu percebi que Deus estava por fazer.
Advogado Erivelton: Você percebeu que Deus estava por fazer? O que você quer dizer com isso?
JESUS: Israel sofre. Israel está subjugada pelos romanos. E Deus, o que ele fez até agora? Eu, o que fiz pelo meu povo? Depois que meu pai morreu eu não tive mais sossego. É como se eu tivesse acordado para o mundo. Foi nessa época que os romanos passaram pela Galiléia e que eu descobri que era Judeu. Judeu, era preciso que eu recebesse como um insulto para me dar conta disso. Em Nazaré, eles só estacionaram pelo tempo de uma parada para beber, mas o fizeram com arrogância, escarro nos lábios daqueles que se julgam superiores, daqueles que se consideram nascidos para dominar
Advogado Erivelton: O que os Romanos fizeram de tão ruim?
JESUS: o que fizeram? Tudo. Das outras aldeias nos chegava notícias e barulho dos seus feitos, o número de patriotas mortos, as moças violentadas, as casas saqueadas. Nosso povo sempre foi submetido a inúmeras invasões, dominações, tutelas, como se a nossa condição mais comum fosse a de ocupados. Israel tem a memória dessas infelicidades e eu chego e me dizer, em algumas noites tristes, que, se Israel não tivesse a sua fé, talvez não fosse mais do que a memória de suas infelicidades
Advogado Erivelton: Os romanos humilharam os judeus. Ninguém se revoltou com isso?
JESUS: Sim, muitos se revoltaram. Quando os romanos atravessaram e humilharam a Galiléia, eu me tornei um verdadeiro Judeu. Ou seja, me pus a esperar. Esperar o salvador. Eles humilharam os nossos homens, humilharam a nossa fé. Para a vergonha que sentia, eu só encontrava essa resposta ativa: Esperar o Messias.
Advogado Erivelton: Esperar o Messias? Você passou a esperar o Messias? Você não é o Messias!?
JESUS: Messias havia aos montes na região. Os Messias pululavam na Galiléia. Não se passavam seis meses sem que aparecesse um por lá.
Advogado Erivelton: como eram eles?
JESUS: O salvador chegava sujo, descarnado, barriga vazia, o olhar fixo, e dotado de uma tagarelice de se fazer ouvir até pelos insetos. Nós não os levávamos muito a sério, mas o escutávamos assim mesmo, “no caso de”, como dizia a minha mãe.
Advogado Erivelton: No caso de quê?
JESUS: No caso de ser verdadeiro. De repente um deles poderia ser o verdadeiro. Invariavelmente, ele anunciava o fim do mundo, as trevas às quais só sobreviveriam os justos, uma noite em que nos livraríamos de todos os romanos
Advogado Erivelton: você os ouvia?
JESUS: Sim, eu os ouvia. É preciso confessar que numa vida de trabalho constante como a nossa, fazia bem parar um instante para escutar os relatos incendiários desses iluminados. Eles antecipavam tantas loucuras em que eu ainda não havia pensado e, sobretudo, me dava medo, mas o medo do tempo de um discurso, um medo sem conseqüências, que levou tais Messias se tornaram o meu espetáculo preferido
Advogado Erivelton: Esses Messias eram bons nos seus discursos?
JESUS: Brilhantes. Alguns eram até capazes de fazer a multidão chorar. Eles eram muito estimados. Entretanto, eles nos marcavam muito pouco. Na verdade eles eram contadores de histórias, e os hebreus adoram histórias
Advogado Erivelton: Você era um bom marceneiro?
JESUS: A minha mãe dizia que eu não tinha talento para esta arte. Eu acho que ela estava certa. Às vezes eu acreditava que o meu destino era fazer o que meu pai havia feito. Eu havia abandonado toda a esperança de ser um rabino. Rezo e leio, mas tudo isso só faz multiplicar os meus debates interiores. Muitos nazarenos me consideravam um mau praticante: eu acendia meu fogo no dia de sábado, eu cuidava de um irmãozinho doente no dia de sábado
Advogado Erivelton: O Rabino Isaac, não reclamava desse seu comportamento?
JESUS: Sim, reclamava, ele se inquietava com o meu comportamento, mas impedia que as outras pessoas se irritassem comigo além da conta
Advogado Erivelton: O que ele dizia para essas pessoas?
JESUS: Ele dizia: Jesus é piedoso, dêem um tempo para ele compreender aquilo que vocês já compreendem
Advogado Erivelton: O Rabino era compreensivo com você?
JESUS: Comigo ele era mais severo. Às vezes ele me dizia: Tu sabes que já apedrejaram um homem por causa disso que tu fazes?
Advogado Erivelton: O que você dizia para ele?
JESUS: Eu não faço mal nenhum. Na verdade eu me sentia menos rabino à medida que adquiria uma desconfiança tenaz das pessoas que sabem das leis que a impedem a refletir
Advogado Erivelton: Você acha que vai mesmo ser preso?
JESUS: Eu tenho a mais absoluta certeza da minha prisão
Advogado Erivelton: Por quê?
JESUS: Tenho informação de que a minha ação enérgica e incisiva contra a ganância dos vendilhões no átrio de um ambiente que eu considero santo. Não tenho dúvida de que mexi com interesses financeiros. Toda páscoa é assim, muitos comerciantes a esperam com grande ansiedade para amealharem lucros para o ano inteiro. A minha firme postura contra esses abusos chamou a atenção das ditas autoridades judaicas
Advogado Erivelton: Nenhum outro motivo?
JESUS: A religião, do modo como ela estava estabelecida, organizada, hierarquizada, dominava uma palavra morta, havia perdido o espírito para a letra. Era no silêncio e na meditação que eu tentava reencontrar a palavra de Deus

JESUS E REBECA
Advogado Erivelton: Você é jovem, bonito e muito inteligente
JESUS: obrigado!
Advogado Erivelton: Nunca pensou em casar, ter filhos?
JESUS: A minha mãe vivia me dizendo: Vai, meu filho, trata de te casar. Seria hora de se tornar um pouco mais sério agora. Veja Mochéh, Ram e Késed: todos eles já tem filhos. Teus irmãos mais novos já me fizeram avó. O que esperas? Perguntava a minha mãe
Advogado Erivelton: E você, o que respondia para ela?
JESUS: Eu pouco dava ouvidos para essas indagações. Eu não pensava nada, sequer pensava nisso. Ela dizia que eu deveria ter um namoro sério achando que eu tinha dezenas de mulheres; que eu era o sedutor de Nazaré, minha aldeia. Ela pensava assim porque me via horas a fio discutindo e passeando com essa ou aquela mulher, mas não era nada do que ela ou os outros pensavam
Advogado Erivelton: Você gostava da companhia das mulheres?
JESUS: Sim, eu gostava da companhia das mulheres e elas da minha. Mas nós não desaparecíamos no mato ou nas granjas para nos esfregarmos um ao outro, nós falávamos. Nada mais. As mulheres falam coisas mais interessantes. Mochéh me via voltar e escarnecia. Tu não vem me dizer que não fizeram nada quando estavam juntos? Eu respondia: Nós falávamos apenas da nossa vida, de nossos pecados. Minha mãe ficava cada vez mais inquieta. Quando vai te casar meu filho? Tu não vais acabar velho e solteiro, não é mesmo? Você não quer filhos?
Advogado Erivelton? Você nunca pensou em ter filhos?
JESUS: Não, na verdade eu não queria ter filhos, eu não me sentia maduro para procriar, tinha a impressão de ser ainda um filho. Como poderia oferecer a mão a uma criança? Para levá-la aonde? E dizer-lhe o quê? Sei que a pressão era muito grande.
Advogado Erivelton: Você não se sentiu atraído por nenhuma moça da aldeia?
JESUS: Rebeca. Eu e ela acreditamos que o ar é transparente e descobrimos que ele é opaco: O sorriso de Rebeca penetrou o espaço e veio se fixar em mim em um segundo. Eu era a sua presa.
Advogado Erivelton: Rebeca era bonita?
JESUS: Sim, por causa do preto azulado da sua trança, a brancura da sua tez, tenra como o interior de uma pétala de campainha, olhos tranqüilos, verde- amarelos, seu corpo esbelto brincava de aparecer e desaparecer sob a túnica. Rebeca era mais mulher do que todas as outras mulheres, ela resumia todas, ela superava, todas, ela era única.
Advogado Erivelton: você a paquerou?
JESUS: Eu não tive necessidade de fazer-lhe a corte. Meus olhos falaram por mim...creio que ela também me amou desde o primeiro olhar que lhe lancei. À primeira vista nós nos reconhecemos.
Advogado Erivelton: A sua família e a família dela incentivaram vocês?
JESUS: Nossas famílias perceberam isso depressa e nos incentivaram. Rebeca não era de Nazaré. Ela vivia em Nain, numa rica família de armeiros. Mamãe derramou lágrimas de alegria quando me viu consagrar minhas economias à compra de um broche de ouro: Finalmente seu filho realizava os desejos de todo mundo.
Advogado Erivelton: então você namorou com ela?
JESUS: Em Nazaré, como em toda a Judéia a coisa não é tão simples assim. São formais até no namoro
Advogado Erivelton: Então o que aconteceu? Conte! Estou curioso!
JESUS: Então, numa noite, decidi fazer o meu pedido. Levei Rebeca a uma taberna à beira d’água. Ali, num terraço iluminado a óleo, em meio ao frescor das tílias, as mesas esperavam os apaixonados. Sem ter certeza do que eu ia pedir-lhe, Rebeca estava ainda mais enfeitada que o de costume. As jóias amolduravam o seu rosto, como pequenas lâmpadas destinadas a iluminá-la, e só ela.
Advogado Erivelton: Taberna, iluminação, frescor das tílias, mesas e paixão? E aí?
JESUS: Começamos a conversar, eis que chegou um velho e uma criança ele disse: Caridade, por favor! Dei um suspiro de irritação. Passem de novo mais tarde-disse Rebeca, secamente. O velho afastou-se respeitosamente com a criança. Começamos a nos servir. A comida estava suntuosa, os peixes e as carnes ornados com mil detalhes que lhes davam um ar de festa
Advogado Erivelton: O velho e o garoto, voltaram para atrapalhar o casal de novo?
JESUS: O velho e o garoto, sentados na beira do rio, nos olhavam comer com vontade. Maltratado por todos, o ancião tinha, no entanto, guardado da boca de Rebeca que ele deveria passar de novo mais tarde. Ele aguardava um sinal nosso para se aproximar. Seus olhos humilhados me irritavam, eu esticava o pescoço para não olhar em sua direção
Advogado Erivelton: Rebeca, estava feliz?
JESUS: Com a ajuda do vinho, ela desabrochava num humor feliz. Ela ria de qualquer coisa, parecíamos ser o centro do mundo, jamais a terra havia tido um casal mais jovem, mais vivo, mais bonito que nós dois naquela noite. Na mesa e na hora da sobremesa ofereci o broche a Rebeca. Ficou maravilhada com a jóia e caiu em lágrimas. Também comecei a chorar. Essas lágrima, que nos uniam, nos jogaram um contra o outro, dando-nos uma violenta vontade de fazer amor
Advogado Erivelton: E aí, o que aconteceu?
JESUS: O velho e a criança voltaram. Caridade, por favor. Mãos estendidas, famintos. Rebeca deu um gritinho de raiva e chamou o taberneiro. Será que não podemos jantar tranquilamente? Balancei a cabeça concordando com ela. Perdão moça, respondeu o taberneiro que em seguida deu lhes um esfregão e os expulsou da taberna. Os pratos ainda estavam cheios de comida que era muita só para duas pessoas. Olhei o broche que dei a ela, olhei a nossa felicidade e fiquei mudo
Advogado Erivelton: Mudo? O que aconteceu?
JESUS: O amor é mais forte do que tudo, mas o homem casto é o homem mais forte que o próprio amor...É o próprio amor a serviço de todos os homens, fracos e fortes. Ali junto com Rebeca, repentinamente começou a fazer frio. Acompanhei Rebeca até sua casa
Advogado Erivelton: E o broche? E o noivado?
JESUS: No dia seguinte, rompi o noivado
Advogado Erivelton: E o povo? O que disseram as pessoas? Sua mãe?
JESUS: Aos olhos de todos, eu jogava sobre mim todos os erros. Nunca expliquei nada a ninguém, nem mesmo à minha mãe suplicante. Não mais do que a Rebeca
Advogado Erivelton: Meu Deus! Mas o que aconteceu, homem de Deus?
JESUS: A verdade é que naquela noite, na euforia do namoro e da beleza de Rebeca, me fez por alguns momentos rejeitar a miséria, eu descobri o que há de profundamente egoísta na felicidade. A felicidade isola, fecha as portas, faz esquecer os outros, ergue muralhas intransponíveis; a felicidade pressupõe que nos recusemos a ver o mundo tal como ele é; em uma noite, a felicidade me pareceu insuportável
Advogado Erivelton: O amor e a felicidade andam juntos?
JESUS: Pode ser, mas eu preferia andar com o amor. Mas não o amor que eu sentia por Rebeca, esse amor exclusivo onde prevalece a fúria e o egoísmo não me interessa. Eu não queria mais o amor particular, eu queria o amor em geral. Eu queria o amor que pudesse guardá-lo para aquele velho e o menino que me pediram esmola na taberna. Eu queria um amor que eu pudesse guardá-lo para aqueles que não são tão belos, atraentes, interessantes. É muito fácil amar os belos e os engraçados. Devemos amar as pessoas não amadas.
Advogado Erivelton: Você é feliz?
JESUS: Não sei se sou feliz. Sei que não fui feito para a felicidade. Não sendo feito para a felicidade, não fui feito para as mulheres.
Advogado Erivelton: A rebeca o fez feliz?
JESUS: A Rebeca, sem querer, a Rebeca me fez aprender um pouco sobre a felicidade particular
Advogado Erivelton: O que foi feito de Rebeca?
JESUS: Seis meses mais tarde ela se casou com um belo agricultor de Nain, de quem se tornou a mulher fiel e amorosa. Minha mãe ficou muito triste: Meu filho você é tão inteligente como podes fazer tantas loucuras? Eu não te compreendo. Se ao menos teu pai estivesse vivo!
Advogado Erivelton: Caso seu pai estivesse vivo, mudaria alguma coisa?
JESUS: Boa pergunta: Se meu pai estivesse vivo estaria eu aqui nesse jardim? Estaria aqui esperando e transpirando a minha morte? Se meu pai estivesse vivo eu teria ousado?

A JUSTIÇA E A MORTE

Advogado Erivelton: Por falar na morte, o que ela nos ensina?
JESUS: O filho do meu amigo Mochéh morreu aos sete anos. Era o seu filho mais velho. Ele chorou bastante, coisa rara um homem chorar seu filho, pois os pais, sabendo que toda vida é precária, tomavam bastante cuidado para não se apegarem demais aos pequenos durante seus primeiros anos. Transtornado, mochéh veio se refugiar na minha oficina, seu filho só tinha 07 anos de idade, ele não aceitava a morte, estava fechado, punho cerrado, triste, cabisbaixo. Reclamava ele: Porque ele? E Tão jovem! Nunca havia pecado. Não teve tempo. É injusto. Mochéh exclamava: Porque Deus o levou? Isso pode existir, um Deus que deixa matar crianças?
Advogado Erivelton: E você, o que disse a Mochéh?
JESUS: O óbvio. É doloroso tentar compreender o incompreensível...A morte. Para suportar este mundo é preciso desistir de entender o que o ultrapassa. A morte não é injusta porque não sabemos quem é a morte. Tudo o que sabemos dela é que ela nos priva de nossos entes queridos. Mas onde teu filho está? Perguntei a Mochéh! O que ele sente? Tu não sabes e nunca saberás como Deus pensa. Tudo o que tu sabes é que Deus nos ama. Eu disse essas coisas para ele.
Advogado Erivelton: Mas Jesus, o que é Justiça?
JESUS: Justiça é um valor de justa contradição que Deus nos dá igualmente a todos: A vida e depois a morte. O resto depende dos homens e suas circunstâncias.
Advogado Erivelton: Você convenceu Mochéh com esse conceito de Justiça?
JESUS: Não, diante da morte do filho a sua fé e sua crença desapareceram. Ele até me perguntou porque chorei tanto quando meu pai José morreu.
Advogado Erivelton: O que Você respondeu para ele?
JESUS: Respondi que quando meu pai partiu, eu disse a mim mesmo que não teria mais nem uma hora a perder para amar aqueles que amo, eu não podia mais adiar. Diante do mal eu sofro, mas o sofrimento não é uma ocasião para odiar, é uma ocasião para amar.
Advogado Erivelton: E aí, o que ele disse? Você o convenceu?
JESUS: É, ele pela primeira vez levantou a cabeça para mim e finalmente parecia me ouvir. Aí eu continuei a falar para ele que seu filho mais velho estava vivo e que ele deveria amá-lo, pois a única coisa que a morte nos ensina é que precisamos amar urgentemente.
Advogado Erivelton: e depois dessas belas colocações o que fez Mochéh?
JESUS: A partir desse dia ele parou de chorar. Ele continuou lamentando a ausência do filho, mas converteu a sua confusão em afeição. Nada elimina a tristeza; mas o coração verdadeiro a torna útil e benéfica.


O ENCONTRO DE JESUS COM DEUS
Advogado Erivelton: Os anos se passaram. Você encontrou o seu lugar?
JESUS: Fiquei todos esses anos em Nazaré. Cuidei da oficina do meu pai, meus móveis melhoraram e meus conselhos tornaram-se úteis às pessoas. O velho Rabino Isaac morreu e o templo de Jerusalém nos mandou um novo rabino, Nahoum, um especialista nas escrituras sagradas. Depois de duas semanas que ele estava em Nazaré ele compreendeu que, além dele, havia outra voz ouvida na aldeia. Alguma pessoa andou repetindo as minhas palavras ele ouviu e entrou furioso na minha oficina dizendo: Quem és tu para acreditar que podes falar das escrituras?! quem és tu para dar conselhos aos outros? Tu freqüentaste alguma escola rabínica? Praticaste as Escrituras como nós, verdadeiros rabinos?
Advogado Erivelton: O que foi que você respondeu ao Rabino?
JESUS: Respondi que não era eu que estava aconselhando, Mas uma luz que está no fundo das minhas preces.
Advogado Erivelton: O que lhe disse mais o Rabino?
JESUS: Ele dizia que eu era bom apenas em produzir lascas de madeira; que eu não tinha de falar em nome das escrituras; que eu não tinha que falar em nome de Deus; que o templo condena os presunçosos; que em Jerusalém eu seria morto a pedradas.
Advogado: E aí, o que você fez depois desse puxão de orelha?
JESUS: Confesso que fiquei com medo. Durante dois dias fechei a oficina e me isolei em passeios. O Rabino por certo tinha razão. Eu tinha me tornado o conselheiro espiritual da Aldeia. Eu falava em toda parte em nome de Deus. Eu nem me tocava, não me via tão excepcional. Jamais me via apedrejado apenas pela minha oposição ao templo. Realmente passei a ter medo. Contudo, sei que amanhã agonizarei na tábua da crucificação.
Advogado Erivelton: e depois das investidas do novo Rabino, como foi que as coisas ficaram?
JESUS: Voltei do passeio e reabri a oficina. Todavia, ninguém apareceu mais lá. Nem mesmo para encomendar uma tábua. O Rabino Nahoum deve tê-los assustado.
Advogado Erivelton: E depois como ficaram os fiéis?
JESUS: Fiéis?
Advogado Erivelton: Sim!
JESUS: Não eram fiéis, eram pessoas simples necessitadas, amigas, carentes. Essas pessoas passaram a me visitar pouco a pouco clandestinamente para o Rabino não saber. Nós nos encontrávamos no fim do dia longe da aldeia e perto de um lago, ali eu tinha o sentimento de que a paz nos conquistava, ali eu encontrava Deus. Entretanto logo o Rabino soube e veio berrar comigo. Ele tinha razão.
Advogado Erivelton: O Rabino tinha Razão?
JESUS: Sim, ele tinha razão. Acho que eu tinha me transformado em um monstro de vaidade. Pois será que era normal eu procurar a verdade em mim mesmo ao invés de procurá-la nas escrituras? Nos livros sagrados? Devemos confiar tanto assim em nós mesmos? De qualquer modo eu admito que tinha uma incontrolável necessidade de me purificar, eu tinha necessidade de uma ajuda, de um guia, de um mestre. Eu precisava ir ver João Batista para me lavar de meus pecados.
Advogado Erivelton: João Batista?
JESUS: Sim, um primo meu, filho da tia Elizabeth, dotado da palavra profética. Minha mãe havia me dito que ele estava à margem do rio Jordão lavando os pecados das pessoas.
Advogado Erivelton: Então você foi ao encontro de Yohanan?
JESUS: Sim, fui ao seu encontro. João o mergulhador batizava em Bethânia, nas águas do Jordão. As pessoas partiam de todos os cantos para lá. As damas da Babilônia, de Jerusalém e de iduméia seguiam para aos montes. Fincavam cabanas, acampamentos, tendas e famílias inteiras se aglomeravam lá.
Advogado Erivelton: Como era o João Batista?
JESUS: Ele parecia a caricatura de um profeta: muito magro, barbudo, coberto de peles de camelo imundas com dezenas de moscas ao seu redor atraídas pelo fedor, olhar de uma fixidez incômoda. Fiquei espantado com tanta gente à sua procura. Me senti humilhado. Vi gente de toda espécie: Romanos, judeus, mercenários, sírios, enfim, gente que nunca havia praticado a Torah e ignorava tudo que tinha nas sagradas escrituras. Eu me perguntava: O que eles buscam nesse homem? O que ele promete? O que ele dá nos seus cultos que não existe nos meus?
Advogado Erivelton: E aí, você se aproximou dele? Entrou na fila do batismo?
JESUS: Sim, eu me aproximei mais um pouco dos dois últimos peregrinos da fila do batismo. Um deles disse: Eu vou lá. O outro homem respondeu: Eu não vou, pois não acredito nisso e eu respeito a nossa lei. Água suja, imunda.
Advogado Erivelton: Ele destratou do batismo de João?
JESUS: Sim, mas João, com ouvido muito apurado ou advinho, ouviu o que o homem falou e respondeu lá da frente: Corja de víboras! Porco sujo! Tu não crês porque te prendes às formas ocas da lei! Não basta lavar as mãos antes de cada refeição e respeitar o sabá para se proteger do pecado. Somente te arrependendo em teu coração poderás obter a remissão de teus pecados.
Advogado Erivelton: O que lhe significou essas palavras de João?
JESUS: Aquele discurso me tocou como a picada de uma abelha, pois era isso que eu pensava há anos. Aquelas palavras eram minhas.
Advogado Erivelton: O homem se aproximou do mergulhador João?
JESUS: João urrou- aproxime-se homem. Nu como nasceu o homem se aproximou tirando a roupa e se aproximando de João. Ele segurou a sua cabeça em sua grande mão ossuda e disse: Arrepende-te de teus pecados. Deseja o bem ao próximo.
Advogado Erivelton: O homem se arrependeu?
JESUS: Não sei o que se passou pela cabeça daquele homem. Não sei se teve medo, obediência ou sinceridade. A verdade é que ele pareceu se entregar a um arrependimento sincero, João, após alguns segundos, empurrou o homem para debaixo d’água. Ele o manteve assim por um bom tempo, a ponto de bolhas escaparem do fundo, depois deixou-o retornar, ofegando, à superfície.
Advogado Erivelton: O que falou João após o homem retornar à superfície?
JESUS: Vai, estás perdoado. O homem, tocado pelo quase afogamento, foi andando pelo rio, hesitante. Logo que tocou a terra firme, o homem se jogou no chão, colocou a cabeça entre as pernas e começou a chorar.
Advogado Erivelton: Chorar porque?! Se ele tinha acabado de ser batizado?
JESUS Acho que chorava de alegria, pois dizia aos prantos- obrigado meu Deus, obrigado...Obrigado pela remissão de meus pecados. Eu estava tão impuro.
Advogado Erivelton: E nesses dias de batismo o que fazia João quando anoitecia?
JESUS: O João se retirava para uma gruta onde passava suas noites. Lá no acampamento em que as pessoas ficavam ao redor de uma fogueira eu soube que ele só bebia água e não comia nada. Eu admirei a força de sua alma, pois eu me sentia incapaz de passar sem carne pão ou vinho.
Advogado Erivelton: Como é que um homem puro e santo como João usava aquelas peles fedorentas de camelo? Logo o camelo que era considerado um animal impuro como a lebre e o porco!... Sua atitude não era contra a lei?
JESUS: Olha, o que posso te afirmar é que cheguei à constatação de que nem mesmo seus maiores admiradores pareciam compreender uma mensagem essencial de João.
Advogado Erivelton: Que mensagem era essa?
JESUSNão é a letra fria da lei que torna o coração do homem mais puro, mas a observância e o espírito dessa lei.
Advogado Erivelton: Você chegou a conhecer algum discípulo de João?
JESUS: sim, na noite em que assisti àquele homem ser batizado conheci André e Simão, seus jovens discípulos. Passamos uma parte da noite falando sobre ele, sobre seus ensinamentos que rompiam com o templo, o que tornava a situação frágil; até o comparamos com os monges de Qumran, aqueles essênios, que também banhavam os pecadores.
Advogado Erivelton: Ei, porque você baixou a cabeça? Está pensando?
JESUS: Sim, estou com medo...triste, talvez, afinal está chegando a hora da minha morte.
Advogado Erivelton: Não pense nisso seja forte, caso você morra...viverá eternamente. Voltando ao assunto de João, e quando amanheceu o dia ele continuou batizando as pessoas?
JESUS: No dia seguinte eu me instalei sobre um rochedo de onde podia ver João sem que ele me visse, pois ele exigia purificar primeiramente os estrangeiros.
Advogado Erivelton: O que João falava?
JESUS: Ele dizia- aproximem-se romanos. E vocês judeus, escutem; tratem de tirar lição disso. Ser um judeu não basta para ganhar a salvação. Não se contentem em repetir “tenho Abraão como pai”. Pois Deus pode fazer nascerem filhos de Abraão em todos os países do mundo, e mesmo nas pedras.
Advogado Erivelton : Apareceu alguma autoridade querendo ser batizado?
JESUS: Olha, os soldados romanos eram muito temidos...eram considerados autoridade e vi alguns pedindo para serem batizados.
Advogado Erivelton: Entraram na fila?
JESUS: Sim, e quando chegaram diante de João ele perguntaram para ele- o que nós devemos fazer? Aí João disse a eles para não cometerem violência, não prejudicarem as pessoas, e que se contentassem com o soldo que ganhavam.
Advogado Erivelton: quem mais ele batizou?
JESUS: Ele recebeu os coletores de impostos e disse a eles- não exijam nada a mais daquilo que é fixado na lei. Em seguida recebeu os ricos e disse para eles- aquele que tem duas túnicas deve partilhar com aquele que não tem nenhuma. E aquele que tem o que comer deve dividir com aquele que nada tem.
Advogado Erivelton: As autoridades romanas investigavam João sobre esses seus discursos?
JESUS: Sim, naquele dia quando o sol já estava mais alto, chegou uma delegação procedente de Jerusalém. O templo enviou uma comissão de sacerdotes e de levitas para obter informações sobre João.
Advogado Erivelton: Prenderam João?
JESUS: Quando eles chegaram um deles perguntou a João-quem és tu? Aí João respondeu-sou João, o mergulhador. O soldado perguntou: dizem que tu és o profeta Elias que voltou da morte à vida? Respondeu João- é o que dizem, eu, porém nunca disse isso para ninguém. Um outro soldado perguntou- dizem que tu és o Messias anunciado pelas escrituras? Aí eu vi João responder- não sou o Messias, mas sou aquele que o anuncia. Sou a voz que grita no deserto: “Abram o caminho do Senhor”. Nesse momento um outro soldado perguntou a João: Então você não pretende ser o Messias? João respondeu: Não sou digno sequer de desamarrar-lhe as sandálias. Quando ele vier, a justiça será feita, a vingança, cumprida. Ele queimará os pecadores como se queima a palha após tê-la separado do bom grão. Um último membro da delegação perguntou para João: então se não és o Messias, não és Elias, porque mergulhas as pessoas na água prometendo salvação? Quem te dá o direito de lavar os pecados dos outros? Respondeu João- Eu precedo o Cristo. Ele chega. Em meio a vós está aquele que vem e diante de quem eu me apagarei esta noite.
Advogado Erivelton: Então você ouviu tudo isso calado? O que você pensou? O que as pessoas comentaram nessa hora?
JESUS: Bem, nessa hora todo mundo se olhava: As pessoas se perguntavam se as pelavras de João era parábola a ser interpretada ou se significava que o Messias se encontrava realmente naquele local à beira do rio Jordão.
Advogado Erivelton: E aí, João continuou falando? Falou mais alguma coisa?
JESUS: Sim, ele dizia: sou o explorador encarregado de preparar o caminho do rei, preparo o caminho do arrependimento. Ele logo virá e logo estará aqui o filho de Deus anunciado pelo profeta Daniel.
Advogado Erivelton: E você como se sentiu? O que fez?
JESUS: Quanto a mim, havia sentido um ligeiro mal-estar: havia acreditado, por um instante, que, apesar da distância, João havia me visto.
Advogado Erivelton: E a Comissão de Jerusalém, o que fez depois?
JESUS: A comissão retornou segura, para Jerusalém: afinal, esse João era só um iluminado não muito perigoso; desde que permanecesse na sua poça mergulhando peregrinos na água ele não disputaria o poder com ninguém. Afinal era preciso tolerar alguns movimentos paralelos de sonhadores.
Advogado Erivelton: Em que momento você resolveu sair do esconderijo?
JESUS: Não é que eu estava me escondendo, eu estava apreensivo. Estava observando a beleza dos movimentos de um bom homem. Apreciava silenciosamente as palavras de fé.
Advogado Erivelton: E então, você se apresentou ao homem?
JESUS: Sim, me apresentei. Entrei resoluto na água para ser purificado por João. Quando ele me olhou tomou um espanto e franziu as sobrancelhas dizendo: Eu te reconheço. Sou teu primo, filho de Miriam, que é parente de tua mãe, Elizabete. Aí eu respondi para ele que estava vindo de Nazaré. Ele amarelou e perguntou: tu vens de onde mesmo? Respondi lentamente: Venho de Nazaré. Tu estás me reconhecendo porque sou teu primo. Ele fez uma breve pausa, fixou os olhos em mim e me disse: Eu te reconheço como o eleito de Deus.
Advogado Erivelton: Puxa! E aí, continue!
JESUS: Na verdade ele também aparentava surpresa pelo que ele mesmo dizia. Me olhava como se eu fosse um coisa totalmente extraordinária. E, de repente, pôs-se a gritar para todos que ali estavam: Eis o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.
Advogado Erivelton: E nessa hora qual foi a sua atitude?
JESUS: Olha, ele falou com uma força de convicção tão grande que fiquei mudo. Senti que, sobre o terreno, a multidão havia se imobilizado para contemplar a cena. Os olhares pesavam sobre mim. Eu não sabia mais o que dizer nem o que fazer. Murmurei rapidamente para ele: Mergulha-me depressa. Acabemos com isso. Mas João exclamou, indignado Sou eu que preciso ser purificado por ti! Sou eu que te chamo com todos os meus votos tu és tu vens a mim! Eu te amo.
Advogado Erivelton: O que você falou nessa hora?
JESUS: Aquilo foi demais. Minhas pernas cambalearam, eu perdi o chão e João me levou em seus braços sobre o rio. Ali André e Simão se ocuparam de mim, tratando de dispersar a multidão que queria saber quem eu realmente era.
Advogado Erivelton: E você, permaneceu firme?
JESUS: Sinceramente, desmaiei. As mulheres contaram que, no momento em que desfaleci, uma pomba desceu do céu para pousar sobre a minha cabeça. Eu, naturalmente, não vi nada. FOI ALI, NA VERDADE, QUE TUDO COMEÇOU...

JESUS, O CONSELHEIRO ESPIRITUAL ENCONTRA JOÃO BATISTA 

Advogado Erivelton: E então, você vai se entregar aos soldados? Se eu fosse você eu fugiria. Não adianta se entregar às autoridades o tratamento é sempre o mesmo. O suspeito se entrega e mesmo assim será punido igual aos que fogem.
JESUS: Sei disso. Sei que a espera está me esgotando. Eu preferiria falar, lutar, agir...Em vez disso, viro a cabeça e os ouvidos ao menor ruído, esperando o tinido das armas. Não tenho pressa de morrer, não, mas eu gostaria de parar de esperar. Prefiro a morte à agonia. Fico a pensar: Porque os soldados demoram tanto se a distância entre o templo e o monte das oliveiras é tão curto?
Advogado Erivelton: Você se sente como um animal ou um pássaro acuado?
JESUS? Pássaro!? Nem isso. A raposa têm suas tocas, os pássaros do céu têm seus ninhos, e eu, eu não tenho sequer um lugar onde repousar a minha cabeça.
Advogado Erivelton: Bem que eu poderia defender você.
JESUS: Obrigado. Meu Advogado não é desse mundo.
Advogado Erivelton: Sobre o seu desmaio na hora em que João anunciou você no rio Jordão, como ficaram as coisas depois?
JESUS: Acordei aturduado. André e Simão me crivaram de perguntas. Quem eu era? O que eu havia feito até então? Por que João me havia designado como o Eleito? Por que eu me fazia passar por um simples peregrino? Se eles podiam me seguir? Consagrar-me suas vidas?
Advogado Erivelton: O que você respondeu para eles?
JESUS: Respondi para eles o seguinte: Eu não sou nada. Não compreendo o que João disse. Sou apenas um mau carpinteiro e um mau crente que vem de Nazaré.
Advogado Erivelton: Você nasceu em Nazaré?
JESUS: Não. Na verdade nasci em Belém, mas é uma história um pouco complicada...estava escrito, Miguel anunciou: “O Messias sairá de Belém”. As pessoas confundem isso.
Advogado Erivelton: Você é descendente de Davi?
JESUS: Não.
Advogado Erivelton: Você tem certeza?
JESUS: Quer dizer...Há uma velha lenda que circula na família ...que diz...mas, enfim, sejamos sérios! Você conhece alguma judia da palestina que não pretenda descender diretamente de Davi?
Advogado Erivelton: Sinceramente, não conheço com muito detalhe a história do povo hebreu. Contudo, sei que o Rei Davi viveu como um grande herói, a começar pela vitória sobre o gigante filisteu. Muito bem, voltando ao mergulho no Rio Jordão, depois daquele dia tudo mudou. O que você fez a partir daí?
JESUS: Sei que a partir daquele dia eu devia me afastar do falatório, das influências. Após meus trinta anos, todo mundo tinha uma opinião sobre o meu destino, menos eu. Esmagado pelos conselhos, perdido no meio de cem caminhos diagnosticado como muito piedoso por uns e ímpio por outros, reconhecido, ignorado, pressionado, parado, chamado, retido, adorado, insultado, caçoado, venerado, ouvido, desprezado, interpelado, eu não era mais um homem, mas um albergue vazio no cruzamento das estradas onde cada um chegava com seu caráter, suas bagagens e suas convicções. Eu só repercutia o barulho dos outros. Fugi.
Advogado Erivelton: Por falar em fugir, porque você não foge agora? Os soldados de Roma estão para chegar aqui no jardim das oliveiras.
JESUS: Fugir?! Eu já fugi muito. Já me embrenhei em terras ocultas, lá onde não há mais homens, onde não a vegetação é natural, selvagem, pobre, onde os pontos de água são raros, lá onde não corre mais riscos de encontros. Quando eu falo fugir é a fuga para o nada...para o deserto. No deserto, eu só desejava encontrar uma pessoa: Eu. Lá eu esperava me encontrar, me descobrir no fim daquela solidão. Se eu era mesmo alguém ou alguma coisa, eu devia aprender.
Advogado Erivelton: Você se encontrou?
JESUS: No início, eu não achei nada. Só experimentava sentimentos impessoais; a irritação, o cansaço, a fome, o medo do dia seguinte...Então, após alguns dias, as sujeiras das últimas semanas se afastaram, os hábitos frugais se instalaram, voltei a ser o menino de Nazaré, aquela espera pura da vida, aquele amor de cada instante, aquela adoração por tudo que existe.
Advogado Erivelton: Depois da permanência no deserto você se sentiu melhor?
JESUS: Sim, me senti melhor, mas estava muito decepcionado. Passei a refletir comigo mesmo que a essência do homem é o menino. A melhor parte da nossa vida é a infância. Percebi que o tempo só acrescenta no homem barba, pelos, preocupações, brigas, tentações, cicatrizes, fadiga e nada mais.
Advogado Erivelton: Então eu posso dizer que depois que você voltou do deserto caiu no mundo real?
JESUS: Sim. A queda que mudou a minha vida. Que me fez balançar. Mudei de consistência. Fiquei menos pesado. Acabei flutuando. Me tornei ar. Passei a compreender tudo. Ganhei confiança absoluta. Me encontrei dentro de mim mesmo. Me encontrei sozinho dentro de mim...aí pude conversar comigo mesmo e me entender. Eu estava bem. Eu não tinha mais sede nem fome. Nenhuma tensão me torturava. Eu experimentava a saciedade essencial. Na verdade eu não tinha encontrado a mim mesmo no fundo do deserto. Eu encontrei DEUS.
Advogado Erivelton: Experiência emocionante. E depois disso quem foi você?
JESUS: Desde então, a cada dia eu refiz a minha viagem interior. Eu passei a escalar no meu interior. Mergulhei no interior de mim, pois lá eu passei a encontrar DEUS. Lá eu descobri segredos. Lá eu passei a me jogar nos braços de DEUS. Lá o tempo demora passar.
Advogado Erivelton: O que há dentro de você? Deus ou você mesmo?
JESUS: Há em mim mais que eu. Há em mim um eu que não sou eu, mas que não me é estranho. Há em mim um todo que me ultrapassa e me constitui, um todo desconhecido de onde parte todo o conhecimento, um todo incompreensível que torna possível toda a compreensão, uma unidade da qual eu derivo, um Pai do qual eu sou Filho.
Advogado Erivelton: Então, no deserto você descobriu ser verdadeiramente Filho de Deus?
JESUS: Sim. Mas aconteceu uma coisa que me colocou novamente em dúvida sobre essa minha verdade descoberta e minha relação com Deus.
Advogado Erivelton: O que aconteceu? Me conte.
JESUS: No Trigésimo nono dia no deserto, decidi voltar para junto dos homens. Lá eu já tinha encontrado muito mais do que eu esperava. Precisava voltar à realidade do rio Jordão. Contudo, no caminho encontrei uma serpente morta na terra. Podre, com a boca cheia de formigas. Contudo, ela parecia me olhar e me fazer chacota. Aí um pensamento veio na minha cabeça: será que o diabo me iludiu? Será que todos esses 39 dias no deserto foi mera ilusão que o demônio criou na minha mente?
Advogado Erivelton: Você resolveu passar a quadragésima noite no deserto. Essa última noite fez você mudar tudo o que compreendeu antes de ver a serpente morta?
JESUS: Sim, fiquei confuso novamente. Aquela foi a noite de todas as inversões. Tudo aquilo que me parecias claro tornou-se obscuro para mim.
Advogado Erivelton : Que pena! Então você passou a ter uma batalha consigo mesmo e uma batalha com o demônio? É isso?
JESUS: Sim, isso mesmo. Ali onde eu tinha visto o bem, eu percebia o mal. Quando eu tinha acreditado marcar um dever, eu suspeitava da minha vaidade, da minha arrogância, da minha presunção. Como eu podia acreditar que estava em relação direta com Deus? Quanta presunção, pensava eu.
Advogado Erivelton: Acho que já passei por isso. Às vezes acreditamos que estamos falando com Deus e logo em seguida nos perguntamos: Quem sou eu para falar diretamente com Deus?
JESUS: Isso mesmo. Eu fiquei a pensar na quadragésima noite no deserto: Como eu podia ter a clara sensação de discernir o que é justo do que é injusto? Não seria apenas uma ilusão? Com eu podia me atribuir o direito de falar diretamente com Deus? Não era pretensão? Será que eu não ia sair do deserto e tomar o caminho da impostura e colocar as outras pessoas na minha prevaricação? Será que tenho esse direito de trazer as pessoas para essa minha crença?
Advogado Erivelton: Você obteve respostas para estas indagações?
JESUS: Sinceramente?
Advogado Erivelton? Sim!
JESUS: Respondo a você: Eu nunca tive respostas para estas perguntas. Simplesmente, na manhã do quadragésimo dia, eu fiz uma aposta. Fiz a aposta de acreditar que minhas quedas e minhas meditações me conduziam a Deus e não a satanás. Eu fiz a aposta de acreditar que tinha alguma coisa boa a fazer. EU FIZ A APOSTA DE ACREDITAR EM MIM.
Advogado: Sei que apostar em si mesmo é uma aposta aparentemente fácil. Contudo é uma das mais difíceis apostas que se faz na vida. Pergunto: Você fez durante a vida alguma aposta mais grave do que esta de acreditar em si mesmo?
JESUS: Sim, a mais insensata aposta que fiz na minha vida foi a aposta que, esta noite, neste jardim onde estamos agora, me faz esperar e desejar a minha morte. No dia do meu batismo eu apostei alto. Passei a ser o enviado. Passeia ser o messias. O filho de Deus. André e Simão me abraçavam e se ofereciam para me seguir. Os dias que se seguiram foram os mais felizes da minha vida. Nunca suspeitei das conseqüências dessa felicidade. Percorríamos a Galiléia verde, fresca, frutífera

JESUS E AS MULHERES NA SUA PEREGRINAÇÃO
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Advogado Erivelton: Nessa peregrinação como vocês se alimentavam? Onde arranjavam dinheiro para comprar as coisas?
JESUS: Nós vivíamos sem nos preocuparmos com o dia seguinte, dormíamos sob as estrelas, comíamos o que nossas mãos alcançavam nas árvores ou aquilo que outras mãos nos ofereciam. Sempre passava um homem ou uma mulher que nos dava um pão ou uma moeda. Quando uma questão nos era apresentada, eu me isolava atrás de uma figueira ou de um rochedo e descia dentro de mim...descia no poço do meu corpo e da minha alma e de lá voltava sempre com uma resposta. Eu tinha virado as cartas do mundo. Eu via o jogo ao contrário. Os homens jogavam mal: pensando que deviam ganhar, eles derrubavam as cartas más: A força. O poder. O dinheiro. Eu só amava os excluídos desse jogo cruel e estúpido.
Advogado Erivelton: Por falar em excluídos, como era a sua relação com os pobres? Os aleijados? Os miseráveis?
JESUS: Os pobres se tornaram meus irmãos, meu ideal. Eles não procuram pôr-se ao abrigo da necessidade, pois isso seria pôr-se ao abrigo da vida, não, eles amam tanto a vida que confiam nela, eles se entregam a ela. E, como já falei a você sobre a minha vida de peregrino, sempre passará um homem e jogará uma moeda ou um pedaço de pão. Essa confiança é a adoração.
Advogado Erivelton: Os seus apóstolos pensam assim?
JESUS: Olha, André, Simão e Eu nos tornamos assim pobres errantes que recebiam esmolas e distribuíam o excedente na hora seguinte. Pois nós considerávamos que só nos pertencia a parte que bastava para nossas necessidades; o resto é luxo; nós não tínhamos nenhum direito a ele.
Advogado Erivelton: vocês eram realmente felizes nessa vida de peregrino?
JESUS: Depende do que você chama de felicidade, se o prazer, se a utilidade, se a bondade, se a boa vontade, se a liberdade. Contudo digo a você que havia tanta alegria naquilo que fazíamos que, naturalmente, atraímos outros jovens e nosso grupo aumentou. Para grande escândalo de alguns de alguns entre nós, eu me dirigia muito às mulheres e desejava que elas nos seguissem. Pois eu havia descoberto, ao descer no poço do amor, que as virtudes que Deus me dava para me guiar eram somente virtudes femininas
Advogado Erivelton: A sua sociedade era essencialmente machista. Você, de algum modo, trata as mulheres com muito carinho e até as protege da fúria dos homens. Por que isso? Elas têm alguma bondade especial?
JESUS: Sim, meu próprio pai me falava como uma mãe. Ele me indicava essas heroínas anônimas, aquelas que O realizavam, todas essas doadoras de amor, aquelas que banham os carnes frágeis das crianças, acalmam os gritos, enchem as bocas, dão conforto, colo, servem, socorrem, limpam, dão prazer, são as humildes das humildes, guerreiras do cotidiano, rainhas da atenção, imperatrizes da ternura e curam nossos ferimentos e nossas aflições.
Advogado Erivelton: Então elas são bem diferentes dos homens?
JESUS: Verdade, os homens guardam as portas da sociedade que engendra mortos e desenvolve o ódio. As mulheres guardam as portas da natureza, que fabrica a vida e exige o amor. Mas meus discípulos, como verdadeiros machos da terra de Israel, tinham dificuldade para aceitar que as mulheres praticassem espontaneamente aquilo que lhes custava tantas penas
Advogado Erivelton: os seus discípulos aceitavam as mulheres no grupo de vocês?
JESUS: É como estou lhe dizendo, eles aceitavam as mulheres com uma certa desconfiança. Acho que o problema maior estava neles...Nos seus desejos. Eles tinham medo das mulheres e medo deles mesmos em relação a elas.
Advogado Erivelton: Entendi. Então o que o diferencia deles é que diante das mulheres você via o homem universal. Você via o amor que nos iguala, é isso?
JESUSÉ isso mesmo. O que existe é o homem criatura de Deus. Diante de uma pessoa eu vejo toda a carga de sua vida, vejo suas dores, gritadas ou caladas, suas esperanças, tudo isso que marca, anima e vivifica os traços. Muitas vezes diante de um homem, vejo ainda mais que um homem, eu vejo a criança atrás e o velho adiante, todo um caminho de vida. Nada pode ser comparado à inocência feliz dos primeiros meses.
Advogado Erivelton: Vocês têm uma filosofia de vida um tanto diferente diante de uma sociedade conservadora. Como vocês lidavam com isso?
JESUS: Na verdade nós inventávamos uma nova maneira de viver. Nós abolíamos a desconfiança, a suspeita. Nós só podíamos receber ou dar. Nós éramos livres.
Advogado Erivelton: Os poderosos e o Sinédrio, por exemplo, temiam vocês?
JESUS: Aos olhos dos poderosos, nós éramos fracos. Eles nos deixavam em paz, naquele contexto, nós não contávamos. Contudo, eles se enganavam: Sozinhos, nós só podíamos nos isolar do mundo; reunidos, nós poderíamos transformá-lo. Nós continuávamos a percorrer as estradas, em busca da riqueza que dinheiro algum pode dar, quando nossos passos nos levaram a Nazaré. Em relação ao Sinédrio, no começo eles não ligavam para nós, depois começaram a nos hostilizar
Advogado Erivelton: Vocês seguiram para Nazaré, como foi a chegada de vocês lá? Foram bem recebidos? Seus irmãos sua família acolheram você e seus amigos sem restrições?
JESUS: Fizemos uma caminhada puxada no dia em que chegamos a Nazaré. O sol estava se despedindo quando estávamos chegando. Eu reencontrei minha mãe com alegria, mas me recusei a ficar em casa, eu continuei a viver ao ar livre, junto com meus amigos, recebendo minha subsistência da boa vontade dos nazarenos e discutindo sobre a vida com cada um deles.

É PRECISO AMAR TAMBÉM AQUELES QUE NÃO NOS AMAM 


Advogado Erivelton: E seus irmãos, sua mãe, como receberam você?
JESUS: Minha mãe e meus irmãos me convidaram para ir até em casa. O meu irmão caçula estava furioso, dizia que estava envergonhado pelo meu comportamento de mendigo; que eu não precisava andar daquele jeito; que a oficina do nosso pai estava precisando de mim; que eu poderia até me tornar um rabino etc. O outro irmão me falou: tu mendigas na tua própria aldeia, onde todo mundo te conhece, onde vivemos, onde fazemos nossos negócios. O que vão pensar de nós, Yéchoua?
Advogado Erivelton: E você, não respondeu nada para eles?
JESUS: Eu apenas disse: eu não mudarei nada na minha vida.
Advogado Erivelton: E aí, o que disseram?
JESUS: O meu irmão mais novo, que era um pouco mais atrevido e estava mais preocupado com a sua honra de família, me fez a seguinte proposta: Se não és capaz de trabalhar, podes ao menos dormir e comer em nossa casa?
Advogado Erivelton: e aí, o que você respondeu?
JESUS: Eu perguntei a ele se meus amigos podiam ir comer e dormir lá também. Então ele passou a dizer que meus amigos eram uma trupe de vagabundos, de preguiçosos, de inúteis, e de mulheres perdidas. Chegou a dizer que nunca tinha se visto aquilo em Nazaré e que eles podiam dormir em um acampamento.
Advogado Erivelton: Você foi dormir na casa de sua mãe ou ficou no acampamento com seus amigos?
JESUS: Respondi que não poderia dormir em casa e deixar meus amigos ao relento e, por isso, eu partiria com eles.
Advogado Erivelton: O que disseram?
JESUS: Ouvi a voz de um deles dizendo: Tu queres mesmo é nos humilhar até o fim. E em seguida o meu irmão mais velho me deu um tapa no rosto. Senti muita dor, mas tive compaixão dele...Me aproximei dele ternamente o máximo que pude e pedi: Bate também a face esquerda. Diante da minha provocação vi suas narinas palpitarem de fúria e quando ele se preparou para dar o outro tapa eu dei realmente a face esquerda para ele bater, mostrando que aprovava a sua cólera.
Advogado Erivelton: Ele bateu novamente em você?
JESUS: Ele fechou o punho, deu um grito em cima de mim e se afastou esbravejando sem me bater novamente. Os meus outros irmãos e irmãs passaram a me insultar, como se, ao dar a outra face, eu tivesse cometido uma violência maior do que o tapa que meu irmão me deu.
Advogado Erivelton: Que lição você deu a eles quando deu o outro lado da face para o seu irmão bater?
JESUS: Eu apliquei ali um outro ensinamento de minhas viagens ao poço sem fundo: Amar ao outro a ponto de aceitá-lo em sua estupidez. Responder a uma agressão com outra agressão, “olho por olho, dente por dente”, só tinha como resultado multiplicar o mal e, pior, legitimá-lo. Por outro lado, responder a uma agressão com amor era violentar a violência, pregar-lhe um espelho no nariz que lhe mostrasse sua face raivosa, transformada, feia inaceitável. Meu irmão fugiu disso.
Advogado Erivelton: E a sua mãe, no meio dessa confusão toda, o que ela falou?
JESUS: Ela deu um grito: Calem-se e me deixem só com Yéchoua! Eles obedeceram e me deixaram com minha mãe. Ela se jogou sobre mim e chorou longamente. Eu a abracei ternamente, sabendo que as lágrimas são quase sempre as primeiras palavras da verdade. Ela dizia Jesus, meu filho, meu Jesus, eu fui te ouvir quando tu estavas perto de chegar aqui na aldeia, tuas palavras me deixaram inquieta. Eu não te entendo mais. Puseste-te a falar sem parar de teu pai, a citá-lo, embora o tenhas conhecido tão pouco.
Advogado Erivelton: A que pai ela se referia a José ou a Deus?
JESUS: Pois é, ela achava que eu estava falando de meu pai José. Eu disse para ela: Mamãe o pai do qual eu falo é Deus. Eu o consulto no fundo de mim quando me isolo para meditar.
Advogado Erivelton: E o que foi que ela falou nessa hora?
JESUS: Ela me perguntou: Mas porque você diz “meu Pai”? então eu respondi para ela- Porque ele é meu pai como é teu, o pai de todos nós. Aí ela falou para mim: Tu falas de modo geral. Tu dás conselhos de modo geral. Dizes que se deve amar a todos. Será que tu amas a todos como amas a mim que sou tua mãe?
Advogado Erivelton: Você respondeu o que para ela?
JESUS: Falei para ela- Não é difícil amar as pessoas que nos amam. Amo você mãe, amo meus irmãos, mas isso não basta. É preciso amar também aqueles que não nos amam. E até mesmo nossos inimigos.
Advogado Erivelton: Ouvindo isso, o que disse sua mãe?
JESUS: Ela me respondeu com muita franqueza: Então, meu filho, guarda teu fôlego, porque inimigos, tu terás! Tu percebes para onde estás indo? Para que vida te preparas?
Advogado Erivelton: Puxa! E você respondeu o que para ela?
JESUS: Respondi que a minha vida não me interessa. É a vida em geral que me interessa. O que é preciso fazer dela. Não quero viver para mim e morrer para mim. Nesse momento ela perguntou: o que!? Você não tem um sonho pessoal?
Advogado Erivelton: Ela perguntou isso? O famoso sonho pessoal de que todos nós tanto falamos? Você respondeu, o que?
JESUS: Eu disse para minha mãe que nunca tive sonhos pessoais. Disse a ela que queria apenas testemunhar. Dizer aos outros o que descubro no fundo de minhas meditações. Nesse momento ela me disse: Meu filho pense em você primeiro. Tu me deixas desesperada com esses pensamentos. Quero que tenhas êxito na tua vida! Nesse momento eu falei para a minha mãe o seguinte: Mamãe, no fundo de mim, não sou eu que eu encontro. Ela chorou ao ouvir isso de mim, mas não eram mais as mesmas lágrimas do começo, agora eram lágrimas de consentimento, de aceitação. Acrescentou ela: Estás louco meu Yéchoua. Respondi- hoje, mamãe, posso escolher entre uma carreira de louco e uma carreira de mau carpinteiro. Prefiro ser um bom louco. Ela riu em seus soluços.
Advogado Erivelton: Então ela entendeu?
JESUS: Eu não sei se ela me entendeu, mas a regra é que as mães sempre entendem os seus filhos, mesmo quando estão errados. Da minha parte, me senti frágil diante da tristeza de minha mãe. Saí de Nazaré o mais depressa possível.

OS MILAGRES DE JESUS

Advogado Erivelton Quando foi que você começou realmente a ter problemas com as autoridades? Governo? Sinédrio? Polícia?!
JESUS: Os problemas começaram com os primeiros milagres. Não sei o que o futuro guardará da minha vida, mas eu não queria sobretudo que se propagasse esse rumor que já me embaraça, no qual prendi meus pés: Minha reputação de fazer prodígios.
Advogado Erivelton: Como é que se faz milagre? É uma mágica? Um poder muito grande de concentração? Como você aprendeu?
JESUS: Na verdade, os primeiros milagres eu os executei sem me dar conta. Um olhar, uma palavra, podem curar, todo mundo sabe disso, e eu não sou o primeiro curandeiro a fazer isso em terras da Palestina. Eu tinha observado o rito na minha infância quando Natanael, o curandeiro de Canaã, ficava aos pés dos mais doentes. É preciso tomar seu tempo, esticar a sua energia e se dedicar inteiramente ao sofredor, não há mágica, não há segredo.
Advogado Erivelton: Então basta absorver a dor daquele que sofre? Cuidar do doente com carinho? Compreender o seu sofrimento e dar a ele palavras de conforto? É assim que se faz milagre?
JESUS: Isso mesmo. Devemos nos dedicar inteiramente ao doente. Eu me sentava com os enfermos e tentava, com minhas mãos, dar a eles um pouco da energia que circulava dentro de mim...Eu falava com eles, tentava encontrar uma saída para o seu sofrimento e os estimulava a rezar e a encontrar o poço do amor dentro deles mesmos. Aqueles que conseguiam melhoravam. Os outros, não.
Advogado Erivelton: No caso, você conduzia as pessoas à cura através da fé, é isso?
JESUS: Sim, pois todas as pessoas têm dentro de si o poço milagroso do amor. Eu vi os paralíticos se levantarem, os cegos recuperarem a visão, os mancos circularem, os leprosos pararem de se decompor, as mulheres pararem seus sangramentos, os surdos se intervirem nas conversas, os possuídos se purgarem de seus demônios
Advogado Erivelton: Você se considera um homem de poder? Curar tantas pessoas assim é sinônimo de poder?
JESUS: Olha, nem todas as pessoas que vieram a mim foram curadas. Nem elas nem eu conseguimos chegar ao fundo do poço do amor e encontrar a cura. Elas continuaram pregadas ao seu mal-estar. Eu não tenho nenhum poder, salvo, eventualmente, o de ajudar a abrir a porta que conduz a Deus no fundo de si. E mesmo essa porta, não posso abri-la sozinho, é preciso que me ajudem. A cada doente eu era obrigado a perguntar: Tu tens fé? Só a fé salva. Em pouco tempo, ninguém mais reparava em minha pergunta. Só viam nela uma fórmula. Jogavam-se sobre mim como as vacas ao bebedouro, sem discernimento. Me perguntavam você cura doença de pele? Você cura doenças do intestino? Você expulsa o demônio do corpo do meu filho? Muitos me perguntavam as coisas tecnicamente como se eu fosse um vendedor de algum artigo do comércio. Eu apenas perguntava: tens fé? Só a fé salva.
Advogado Erivelton: Com isso você está me dizendo que as curas exigiam dupla fé, a do doente e a sua?
JESUS: Exatamente. Contudo, me transformavam num mágico. Eu não conseguia mais explicar-lhes que os prodígios não eram gratuitos, mas exigia um sentido espiritual, exigiam a fé do doente e a fé do curandeiro.
Advogado Erivelton: Você conseguia curar todos que iam lhe pedir ajuda?
JESUS: Na verdade, vinha gente de toda parte. Me enviavam muitos incrédulos, alguns extremamente preguiçosos. No entanto se aparecessem dez pessoas pedindo cura e apenas um deles conseguisse sair curado, isso era o suficiente para aumentar a minha reputação em proporções alarmantes.
Advogado Erivelton: Chegou algum momento em que você pensou em parar de curar as pessoas?
JESUS: Eu não queria mais curar. Proibi os discípulos de deixar qualquer pessoa se aproximar. No entanto era muito difícil resistir ao sofrimento verdadeiro. Quando uma criança miserável ou uma mulher estéril mostravam suas lágrimas na minha frente, eu acabava fazendo tudo novamente.
Advogado Erivelton: Você foi alguma vez posto sob suspeita? Por exemplo ser acusado de charlatanismo? Mágico? Ou qualquer mal-entendido?
JESUS: Na verdade, os mal-entendidos se acumulavam na medida em que eu curava. Contudo, eu não controlava mais nada. Atribuíam a mim milagres que nada tinha a ver com minhas curas. Por outro lado, não era para menos pois viam eu multiplicar pães em cestos vazios, vinho em jarras vazias, peixes em redes vazias, tudo coisas bem sucedidas. Eu mesmo constatei, mas quem sabe, poderia haver uma explicação natural. Muitas vezes os milagres eram tantos que passei a suspeitas dos meus discípulos...Movidos por suas paixões, como exageravam nas palavras podiam também exagerar nos atos. Eu às vezes me perguntava: Será que eles teriam encenado esse ou aquele prodígio? Será que não foram eles próprios que encheram as jarras de vinho? Não teriam eles me atribuído a feliz chegada daquele cardume de peixe naquela hora em que estávamos no lago de taberíades? Devo repreendê-los sem certeza? Gostam de mim...são meus amigos...querem meu bem...são apenas homens exaltados que me adoram...eles querem apenas convencer e quando se quer convencer, a boa fé e a impostura às vezes andam juntas.
Advogado Erivelton: Alguns de seus discípulos poderiam ter mentido?
JESUS: Eu não diria mentir. Porém, acho que como eles sempre estavam certos da verdade do meu discurso, eles se arriscavam a pequenas mentiras. É como se lhe questionasse: Porque não empregar maus argumentos quando os bons não têm êxito?Pouco importa que esse prodígio seja real e que o outro não seja! Os culpados são os crédulos que querem ser enganados.
Advogado Erivelton: Entendi. Voltando aos poderosos que daqui a pouco, como você mesmo diz, vêm à sua procura para prendê-lo. O que incomoda eles, afinal?
:JESUS: Depois de tantos milagres a nossa vida mudou. Quando não éramos seguidos por doentes e infelizes em busca de milagres, éramos perseguidos pelos fariseus, pelos sacerdotes e pelos doutores da lei, que achavam que eu tinha agora ouvidos demais para escutar. O clero não suportava minha maneira, aquela forma de descer ao fundo de mim para ali encontrar o meu Pai, e de lá voltar com um amor inesgotável. O clero só acreditava nas leis escritas e criticava tudo o que a minha fé me fazia dizer contra o respeito formal aos costumes.
Advogado Erivelton: Cite um exemplo do que você fazia e eles reprovavam
JESUS: Muitas vezes eu promovi curas no dia de Sabá, eu comia no dia de Sabá, eu trabalhava no dia de Sabá,
Advogado Erivelton: Qual é a importância de se trabalhar no dia de sabá?
JESUS: Simples: O Sabá é feito para o homem e não o homem para o sabá. Eu me justificava e justificava meus próximos, mas como já tinha me dito minha mãe, o resultado estava ali: Embora eu só falasse de amor, eu tinha, a partir de então, milhares de inimigos.
Advogado Erivelton: Quais eram as acusações dos fariseus?
JESUS: Acho que você já me fez essa pergunta, mas eles ficavam muito inquietos quando eu falava em nome de Deus. É assim, uma ideia nova parece uma ideia falsa. Os fariseus se recusavam a me compreender. Eles me acusavam de pretensão. Às vezes me questionavam: Como ousa falar em nome de Deus? Isso é blasfêmia! Deus vive separado de nós, Deus é um só e inatingível. Abismos te separam de Deus. Então eu respondia a eles-Deus está dentro de mim basta que eu mergulhe em mim mesmo e lá está Ele.
Advogado Erivelton: Eles passaram a investigar você a partir de quando?
JESUS: Eles estavam sempre me espiando. Me importunavam quando das minhas pregações, me jogavam indiretas, me hostilizavam demais, queriam me conduzir à letra da torah. Eu não pretendia nem chocá-los nem afrontá-los, mas eu era incapaz de calar minha boca. Eu realmente não estou satisfeito com a presença desses romanos aqui na Palestina. As glórias dos tempos de Davi e Salomão ficaram para trás num passado distante, o Reino de Israel está ruído, Roma subjuga o meu povo com essa capacidade militar incomparável, vivem aqui na Palestina como se fossem donos de tudo. É por isso que os Macabeus lutam e reagem, pois não aceitam essa humilhante presença estrangeira maltratando nosso povo. Sobre o momento a partir do qual eles passaram a me investigar, acho que foi depois de uma viagem que fiz a Jerusalém, para a páscoa, eles não me largaram mais. A cada dia eles me preparavam uma nova armadilha. Consegui evitar a maior parte usando o meu conhecimento dos textos. Mas numa manhã eles me cercaram num impasse.
Advogado Erivelton: Cercaram você? Puseram você num beco sem saída? Como foi isso? Me conte!?
JESUS: Ainda era cedo do dia. Eles me troxeram uma mulher adúltera, puxando-a pelo braço, sem pensar em seu medo e em sua vergonha, sem sequer notar suas lágrimas, como se leva uma bigorna para um lutador de feira. Gritavam: prostituta! Suja! Mulher ordinária!
Advogado Erivelton: E você o que disse?
JESUS: Sinceramente, fiquei encurralado. A lei de Israel é formal: Deve-se apedrejar as noivas culpadas de traição, e ainda mais as esposas reconhecidamente culpadas de adultério. Os fariseus e os doutores da lei pegaram a mulher em falta e deixaram o macho escapar correndo e depois tiveram a coragem de vir massacrar a mulher a pedradas na minha frente. Você acredita nisso?
Advogado Erivelton: Acredito!
JESUS: Eles sabiam que eu não suportaria isso e, bem mais importante que o flagrante delito de adultério do qual escarneciam, eles queriam me surpreender em flagrante delito de blasfêmia. Eles foram astuciosos. A vítima era bela, tremia, roupas desatadas, descabelada, quase morta de medo. Eu queria salvá-la e eles queriam me confundir.
Advogado Erivelton: Por Deus, homem, conte-me como você conseguiu se esquivar dessa cilada?
JESUS: Vou te contar: Para surpreendê-los, ajoelhei-me e pus-me a desenhar formas na areia. Essa atitude inesperada deixou-os desconcertados por alguns instantes e me deu tempo para refletir. Depois a matilha de malvados voltou a uivar- vamos matá-la! Vamos apedrejá-la! Estás ouvindo, nazareno? Vamos acabar com ela diante de ti!.
-Cena curiosa: era eu, e não ela, que eles ameaçavam. Eles me ameaçavam com a morte dela. Continuei a desenhar. Deixei que babassem suas iras, que se aliviassem do ódio; seria sempre algo menos para eu combater. Depois, quando eles acreditaram ter compreendido que eu não interviria, eu me levantei e disse calmamente: “aquele que nunca pecou lhe atire a primeira pedra”. Nós estávamos dentro das cercas do templo. Eu fitei todos eles, um a um, sem amor, ao contrário, com uma violência que deve tê-los inquietado. Meus olhos diziam: Tu, tu nunca pecaste? Eu te vi semana passada num albergue rodeado de fêmeas! E tu, como ousas bancar o puro quando te surpreendi tocando os seios de uma carregadora de água! E tu, crês que não sei que beijas outro homem? E tu, crês que não sei o que fizeste àquela criança? A lei te pegou por isso? Sabem do teu comportamento impuro entre paredes? Alguém te puniu por isso?
Advogado Erivelton: Essas perguntas eram feitas apenas com os olhos! Será que eles ouviam?
JESUS: Claro que ouviram. A consciência dos culpados não se cala e ouve tudo.
Advogado Erivelton: O que eles fizeram após suas palavras?
JESUS: Os velhos recuaram primeiro. Largaram suas pedras e se afastaram lentamente. Contudo, os jovens, já muito excitados pelo gosto de sangue, recusaram-se a voltar às suas consciências. Então eu olhei para eles com ironia. Meu sorriso os ameaçava de delação. Minha fisionomia dizia: Eu conheço todas as prostitutas da Judéia e da Galiléia: Vocês não podem bancar os santos diante de mim. Eu tenho listas. Eu sei tudo. Eu posso denunciá-los. Os jovens, por sua vez, abaixaram os olhos.
Advogado Erivelton: Todos os jovens recuaram só com o seu olhar?
JESUS: ficou um resistente aos meus apelos. Me olhava arrogantemente. Era o mais jovem, ele devia ter uns 18 anos de idade. Este jovem me fez refletir, perguntei a mim mesmo: Será que este jovem casou recentemente? Será que ele acredita nunca ter pecado? Será que nunca adulterou? Me parece tão seguro de si, no direito de matar a mulher. Então resolvi mudar o meu olhar. Parei de o desafiar, de o ameaçar. Resolvi interrogá-lo ternamente: Moço, tens certeza de que nunca pecaste? Eu te amo como tu és mesmo que tenhas todos os pecados do mundo.
Advogado Erivelton: Qual foi a atitude do jovem depois dessas palavras?
JESUS: Ele se sobressaltou. Ele pestanejou. Ele esperava tudo, menos o amor. Seus amigo o puxaram pelo braço. Eles sussurravam: Não seja ridículo! Tu nunca vais conseguir fingir nunca ter pecado, não tu. Vencido, ele se deixou levar.
Advogado Erivelton: E a mulher, o que foi feito dela?
JESUS: Eu a tranqüilizei com um sorriso. Cuidar das mulheres é a coisa mais fácil do mundo, a bondade da mulher é imensurável. Perguntei a ela: Onde estão aqueles que te acusavam? Não há mais ninguém para te condenar? Ela respondeu: ninguém, eles foram embora. Então eu disse a ela: Eu também não te condeno. Vá e não peque mais. A astúcia havia me salvado mais uma vez. Mas eu estava esgotado com aquelas ciladas. Os discípulos se regozijavam com meus sucessos. Eu lhes respondia que um sucesso nunca passa de um mal-entendido, e que o número de nossos inimigos crescia mais depressa que o de nossos amigos. Então nós partimos para nos refugiar na Galiléia.
Advogado Erivelton: Voltando aos grupos religiosos, você é a favor das guerrilhas promovidas pelos Zelotes?
JESUS: Os Zelotes são nacionalistas por excelência. Sei que eles promovem guerrilhas e toda sorte de atentados rotineiros contra as autoridades romanas. Não concordo com isso, pois a violência não se combate com violência, mas com amor. Os Sicários também não se conformam com a situação atual em que nos encontramos, mas as suas ações provocam derramamento de muito sangue tanto de culpados como de inocentes, por isso não me sinto bem em vê-los agir assim, pois sei que Deus sempre dará a solução dos nossos problemas. Esse império não será eterno e um dia Deus o subjugará e o nosso povo ganhará sua liberdade.
Advogado Erivelton: Afinal, quais desses grupos que realmente persegue você por causa das suas idéias?
JESUS: Ao meu olhar, os grupos que representam o atraso do judaísmo são os saduceus e s fariseus. Os saduceus representam a elite aristocrática e os sacerdotes de Israel. Percebo que eles são omissos e fazem uma política da boa vizinhança. Enquanto isso o povo sofre. Os saduceus se beneficiam diretamente da coleta de dízimos no templo. Isso eles fazem com muita competência. Eles só aceitam a legitimidade dogmática da torah. Ao contrário dos outros grupos religiosos, eles não crêem nos anjos do Senhor, não acreditam na vida depois da morte e fazem pouco caso da crença na vinda do Messias.
Advogado Erivelton: O Sumo sacerdote e os membros do Sinédrio são Saduceus?
JESUS: Sim, Caifás e grande parte do Sinédrio são Saduceus. Eles vão está presentes no meu julgamento.
Advogado Erivelton: quem são os fariseus?
Jesus: os fariseus são profundos conhecedores da torah, contudo eles disseminam pelo país seus modos ortodoxos de interpretar a lei hebraica. Eles têm muito prestígio perante a população e são reconhecidos como rabis-mestres itinerantes da palavra inspirada. Eles me seguem por todo lugar onde ando, não para aprenderem, mas para me criticar, me por em contradição.
Advogado Erivelton: Os fariseus acreditavam na vinda do Messias?
JESUS: Eles professam abertamente que acreditam na vinda do Messias, mas não me reconhecem como Tal. O meu maior confronto é com os fariseus da escola do rabino Shammai. Na verdade, digo a você advogado, sou totalmente descompromissado com os ditames defendidos por essa aristocracia sacerdotal corrupta, também não tenho ligação a nenhuma facção religiosa. Minha religião é meu Pai que encontro dentro de mim quando procuro por Ele. A minha primazia é a misericórdia e o perdão
Advogado Erivelton: Vocês foram se refugiar na Galiléia, qual foi o real motivo desse refúgio?
JESUS: Um desgaste me devorava: O cansaço de falar aos surdos, o cansaço de dizer alguma coisa que ninguém queria ouvir, o cansaço de criar surdos ao falar.
Advogado Erivelton: Você estava se sentindo fragilizado? Um pouco frustrado? Decepcionado? Coisa assim?
JESUS: Sim, eu estava cansado, porém cheio de amor, mas a minha vida era inteiramente dedicada às pessoas, mesmo assim havia muita incompreensão. Foi nesse momento que Judas Iscariotes passou a ter cada vez mais importância na minha vida. Diferentemente dos outros discípulos, Judas vinha da Judéia e não da Galileia. Ele era mais instruído do que os outros, ele sabia ler e contar. Em pouco tempo, ele se tornou tesoureiro, distribuindo os excedentes das esmolas recebidas para os pobres que nós encontrávamos pelo caminho. Ele se sobressaía em meio àqueles antigos pescadores de Tiberíades por suas maneiras e seu sotaque da cidade. Ele trazia o exotismo de Jerusalém. Eu gostava de me entreter com ele, bem depressa ele passou a ser meu discípulo preferido.

JUDAS, O DISCÍPULO AMADO

Advogado Erivelton: Qual dos seus discípulos você mais amava?
JESUS: Creio que em minha vida nunca amei tanto um homem quanto Judas. Com ele, só com ele, eu falava de minha ligação com Deus. Às vezes eu dizia para Judas: Deus está sempre tão perto. Tão próximo. Mas Judas me respondia: Deus só está ali para ti e por ti, nós não o encontramos. Aí eu dizia: Tente mais Judas e você encontrará Deus. Ele me respondia: Eu tento, eu tento todos os dias. Eu não encontro o poço sem fundo que tu tanto falas. Ademais, eu não preciso desse poço, pois vivo junto de ti que és meu Mestre.
Advogado Erivelton: Pelo que você fala, Judas compreendeu que a sua ligação com Deus era diferente da ligação que os outros homens tinham.
JESUS: É verdade, Judas compreendeu que eu era diferente, eu nunca percebi nele qualquer interesse de ser como eu era. Ele percebia que era inútil tentar. Às vezes ele me dizia que a minha diferença dos outros era nítida. Eu falava sobre o bem sem ser rabino, percebia que eu não recorria aos textos da lei, que eu não encontrava luz em qualquer texto, que eu não era profeta e mesmo assim havia luz nas minhas palavras, ele percebeu que meu único refúgio era dentro de mim, no meu poço onde Deus sempre estava lá me esperando.
Advogado Erivelton: Então Judas foi o primeiro a perceber as palavras de João de que você era o Filho de Deus?
JESUS: Acho que sim. Uma vez ele me disse: Não encubra a face, Jesus, João, o mergulhador disse antes de todo mundo que tu és aquele que ele anuncia, o Filho de Deus. Eu até falei para ele: Não repita mais isso, eu sou filho de um homem e não de Deus. Então ele me questionou: Por que dizes “meu pai”? por que então você não para com essa farsa?! Por que ficas dizendo que encontra Deus no fundo de ti mesmo? Aí eu calmamente respondia para ele: Não jogue com as palavras Judas. Se eu fosse o Messias, eu saberia. Aí ele dizia: Tu sabes. Tens a consciência e os sinais disso: O fato é que tu te recusas a ver isso!.
Advogado Erivelton: Depois dessa discussão, o que você disse para Judas?
JESUS: Eu mandei que ele se calasse de uma vez por todas. Às vezes até acho que ele espalhou muito de mim para os judeus, afirmando que eu era o verdadeiro filho de Deus, o Messias anunciado pelos testos. Na Galileia só se falava no meu nome. Eu não podia mais sair em público sem que me perguntassem: Tu és o Filho de Deus? Quem te disse? Responde. Responde. És o Messias?
Advogado Erivelton: o que você respondia para essas pessoas?
JESUS: És tu que dizes. Eu não tinha outra resposta: “és tu que o dizes”. Nunca respondi outra coisa. Jamais teria pretendido ser o Cristo. Eu podia falar de Deus, de sua luz, de minha luz, pois ela estava em mim. Não mais que isso. Mas os outros, sem escrúpulos terminavam meu discurso. Eles exageravam. Os que me amavam exageravam para me celebrar. Aqueles que me detestavam exageravam para apressar a minha prisão.
Advogado Erivelton: Então, se o Sinédrio, Pilatos ou Herodes chegarem a perguntar se você é filho de Deus, o que você vai responder?

JESUS: Vou responder o que sempre respondi. Ou talvez fique calado!

 JESUS NO PALÁCIO DE HERODES

Advogado Erivelton: Você chegou a pedir para seus discípulos fazer calar os boatos de que você se dizia Filho de Deus?
JESUS: Sim, muitas vezes. Eu dizia para Judas: Judas eu te suplico: faz calar esse boato idiota. Eu não tenho nada de extraordinário, além daquilo que Deus me deu. Judas me respondia: O boato é exatamente esse Jesus, daquilo que Deus te deu. Ele te elegeu. Ele te destacou. Assuma. Era isso: Judas encontrava motivos em tudo para provar que eu era o Filho de Deus. Pesquisava noites a fio. Chegou a descobrir que Elias me anunciou; que Jeremias me anunciou; que Oséias me anunciou; que Ezequiel me anunciou.
Advogado Erivelton: E você o que dizia disso?
JESUS: Eu protestava. Mas ele conhecia muito bem os textos. Às vezes ele me abalava. Mas eu negava sempre. E eu desconfiava cada vez mais das curas que me atribuíam: Os discípulos, Judas como primeiro, agora viam ali a segunda prova, depois das profecias do meu messianismo. A raiva não me abandonava mais. Essa história havia começado na alegria e na felicidade de meu retorno ao deserto, e se desenvolvia a partir a partir de agora de uma forma que me escapava. Atribuem a mim muito mais do que eu digo. Foi nesse momento que Herodes, o governador da Galileia me convocou. Ele me recebeu em seu palácio, me afligiu a visão de todas as suas riquezas de seus cortesões, depois se isolou comigo entre duas pilastras, sem testemunhas por perto, me perguntou: João, o mergulhador, me disse que tu és o Messias. Então eu respondi a Herodes: É ele que diz. Continuou Herodes: Eu considero João um verdadeiro profeta. Então eu tenderia a acreditar nele. Aí eu continuei: Crê no que quiseres. Herodes se rejubilava. Ele só ouvia confirmações em minhas respostas.
Advogado Erivelton: A sua conversa com Herodes foi só isso? Curta e grossa? Porque você não falou logo para ele se era ou não era o Messias?
JESUS: Na verdade a minha conversa não foi tão curta assim. Falei para ele muitas coisas. Disse a ele: Herodes, eu não sou o Messias, não posso pretender esse título. Amo a companhia dos homens, sinto-me útil ali, mas serei obrigado a me privar disso para continuar a minha vida de ermitão.
Advogado Erivelton: E aí, o que foi que ele disse a você depois dessas suas palavras?
JESUS: Herodes disse- infeliz, não te isoles do mundo como um ermitão ou um filósofo. O que ganharás com isso? A metade da Palestina já está pronta para te seguir. Precisamos servir-nos das idéias do povo se queremos dirigi-lo. Trata-se a humanidade com as ilusões. Vamos, César bem sabia que ele não era filho de Vênus, mas foi deixando-o acreditar que se tornou César.
Advogado Erivelton: Puxa, me pareceu uma provocação, não? O que você respondeu a ele?
JESUS: Respondi: teus raciocínios são abjetos , Herodes, e não quero tornar-me César, nem rei de Israel, nem quem quer que seja. Não faço política. Então ele me disse: Pouco importa, Jesus. Deixe que nós a façamos junto de ti!
Advogado Erivelton: O que você respondeu?
JESUS: Nada. Saí do palácio com minha decisão reforçada. Eu tinha encerrado a vida pública. Parei tudo. Eu ia terminar a minha existência sozinho, isolado no deserto. Eu renunciava. Eu ia dissolver nosso grupo, anunciar isso aos discípulos. Infelizmente, passamos por Nain e, depois de ter atravessado essa aldeia, nada mais foi tão certo para mim.
Advogado Erivelton: Nain? O que tem Nain de tão importante? Por que essa aldeia mudou seu pensamento de deixar a vida pública?
JESUS: Nain localizava-se no sul de Nazaré, eu fui muitas vezes lá desde minha infância. Quando chegamos os discípulos e eu, à entrada do Burgo, encontramos um cortejo fúnebre de um jovem, Amos. Sua mãe era Rebecca, a Rebecca da minha infância, a Rebecca que eu tinha amado e deixado de casar com ela, andava na frente, sem vontade, constrangida, como uma condenada à vida. Ela estava viúva há alguns anos, amos era o seu único filho, ela havia perdido tudo. Quando seus grandes olhos me viram, não houve a sombra de uma amargura, de uma cólera, de um protesto. Seus olhos diziam que eu tinha sorte de não ter família, de me ocupar da humanidade inteira, de só sofrer em geral e jamais em particular. Eu experimentava um misto de pena e de culpa. Será que Rebeca estaria ali, na desolação do luto, se eu tivesse acompanhado a sua vida?
Advogado Erivelton: Então você se reencontrou com Rebecca? O que você falou para ela nessa hora?
JESUS: Por algum momento fiquei em silêncio pensando. Depois, tomado por uma inspiração, pedi aos carregadores que parassem para que eu pudesse ver o menino. Eu me aproximei, peguei as mãos do garoto no caixão e mergulhei na prece mais fervorosa da minha vida: Meu pai, faze com que ele não esteja morto. Dá-lhe o direito à vida. Torna feliz sua mãe. Eu havia me atirado à prece como um desesperado, eu não esperava nada dela, era só um buraco onde escondia minha tristeza. De repenteas mãos do menino se agarraram às minhas e o pequeno, lentamente se levantou.
Advogado Erivelton: E depois disso?
JESUS: Ouvi gritos de alegria explodiram ao redor. Meus discípulos gritavam para um lado e os acompanhantes do cortejo gritavam para outro. Abraçavam-se riam, choravam e glorificavam a Deus. Na mesma noite o menino falava de novo. Ele e Rebecca vieram me cobrir de beijos. Eu estava trancado no meu silêncio e na estupefação. Meia noite Judas sentou-se ao meu lado e falou: Então Jesus, quando deixarás de negar a evidência? Tu ressuscitaste o menino. Aí eu respondi para ele: Judas, eu não estou certo disso, tu sabes, como eu, que é difícil reconhecer a morte. Quantas pessoas são enterradas vivas? É por isso que, muitas vezes, nós primeiro colocamos os defuntos nas caves. Talvez o menino não estivesse morto verdadeiramente morto. Será que estava apenas adormecido? Diante das minhas palavras Judas me perguntou: Tu crês que Rebecca, sua mãe, teria sido capaz de se enganar e de levar seu filho adormecido para o túmulo?!
Advogado Erivelton: O que você respondeu para Judas?
JESUS: Silenciei. Preferi não falar mais. Silenciosamente passei a agradecer a Deus por ter ouvido a minha prece. A minha teima com Judas me dava a impressão de que estava entrando em conflito com Deus. É como se eu estivesse recusando o meu destino. Judas me trazia esse conflito, mas ao mesmo tempo ele me aproximava mais de meu Pai. Minhas conversas com Judas me fazia refletir o quanto eu estava sendo desarmado por Deus. Deus tirava as minhas dúvidas e eu persistia nelas. Deus queria que eu fosse seu defensor, mas eu não me convencia. Pensei tanto que cansei. Vi a manhã chegar. Vi o galo cocoricar. Adormeci de esgotamento.
Advogado Erivelton: Você conversou tanto consigo mesmo que cansou e dormiu. E quando você acordou, que rumo você deu à sua vida?
JESUS: Ao reabrir os olhos, eu tinha aceitado Deus que tanto me ama. Chamei Judas, meu discípulo preferido. Eu sabia que não podia dar-lhe presente maior do que aquilo que eu ia lhe dizer. Então eu disse para ele: Judas, eu não sei quem sou. Sei apenas que sou habitado por algo maior que eu. Então Judas eu lhe digo: Eu faço a aposta, do mais fundo do meu coração, de que sou esse aí, esse que toda a Israel espera. Eu faço a aposta de que sou mesmo o filho de Deus. Judas se jogou no chão, pôs os braços em torno de meus tornozelos e manteve por muito tempo meus pés abraçados. Eu sentia as lágrimas quentes rolarem entre os dedos dos meus pés. Pobre Judas ele era, como eu, só felicidade. Ele não sabia a que noite aquela manhã nos conduziria, nem o que aquela aposta que eu tinha acabado de fazer ia exigir de nós.
Advogado Erivelton: E agora, o que você espera diante de toda essa realidade que virá? Prisão, interrogatório, crucificação, você está disposto a aguardar os soldados aqui?
JESUS: Olha, a minha prisão é uma realidade que não pretendo fugir dela. Sei que essa noite a morte me espera aqui nesse jardim. Percebo que as oliveiras ficaram tão cinzentas quanto a terra. Contudo, meu Pai me dar força nesse pomar indiferente à minha angústia, me dar coragem de ir até o fim daquilo que acreditei, por loucura, ser, realmente a minha tarefa.
Advogado Erivelton: Pois bem, e depois da sua aposta secreta de admitir ser filho de Deus, o que aconteceu nos dias seguintes?
JESUS: Nos dias seguintes Herodes mandou prender João, o mergulhador, e o trancou na fortaleza de Maqueronte. Herodíades, sua nova esposa, queria a pele do profeta que ousara condenar o seu casamento. De dentro da prisão João, na sua inquietude, mandou para mim uma mensagem questionadora: És mesmo aquele que deve vir? És o Cristo? Ou é preciso que eu espere um outro? Estas perguntas me incomodaram, pois eu sabia que João duvidava, não dele, mas de mim. Ele se espantava por eu passar meu tempo com os homens do povo, as cortesãs; ele me repreendia por comer e beber com os meus, com as pessoas simples, ele que era tão ascético; e ele não compreendia a minha lentidão em me declarar.
Advogado Erivelton: Você respondeu a carta de João?
JESUS: Sim, mandei os dois mensageiros dizerem a João que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos estão purificados, os surdos escutam, a boa nova foi anunciada. Que ele seja feliz e confiante! No entanto, antes que a minha mensagem chegasse a João ele foi decapitado. Meus discípulos, alguns deles haviam que seguido João, ficaram revoltados e passaram a dizer: Toma o poder, Jesus! Não deixe mais os justos serem executados! Funda o teu reino, nós te seguiremos, a Galiléia te seguirá. Senão, tu terminarás com o pescoço cortado como o João.
Advogado Erivelton: O que vice respondeu aos discípulos?
JESUS: Eu só escutava a indignação deles, mas não podia satisfazê-los. Quanto mais eu meditava, mais eu percebia que não tinha nenhum lugar para tomar, nenhum trono para reivindicar. Eu não seria um líder de homens, mas um líder de almas. Sim, eu queria mudar o mundo, mas não como eles me empurravam. Eu não lideraria uma revolução política, à frente dos pobres, dos dóceis, dos excluídos, das mulheres, tomando de assalto a palestina, derrubando os detentores do poder, das honras, das riquezas; outros poderiam fazê-lo, inspirando em mim. A revolução política se faz com morte, eu não mato. A revolução se faz com violência eu não pratico violência. A revolução que eu faço é dentro das pessoas fazendo com que elas encontrem Deus dentro de si. A revolução interior. O mundo de césar, de Pilatos, dos banqueiros e dos mercadores, não pertence a mim.
Advogado Erivelton: o que você pretende com a sua revolução?
JESUS: Senhor Advogado, a terra foi deixada para os homens: o que eles fizeram dela? Vamos abolir o ódio, os abusos, as explorações, veja Israel! Cheia de honras e privilégios. Vamos eliminar as escalas que põem um homem acima de um outro, vamos suprimir o dinheiro que faz a angústia, a avareza, a insegurança, a guerra, a crueldade, o muro entre os homens. Vamos cumprir todas essas tarefas em nosso espírito. Nenhum trono, nenhum cetro, nenhuma lança pode nos purificar e nos abrir ao amor verdadeiro. No meu reino cada uma pessoa leva consigo o poço do amor onde Deus mora e está sempre disposto a nos receber.
NÃO HÁ AMOR MAIOR DO QUE DAR A VIDA POR SEUS AMIGOS

Advogado Erivelton: Os Galileus escutavam essa belas lições sobre o seu reino?
JESUS: Os galileus me escutavam boquiabertos, pois é com a boca que eles escutam; com os ouvidos eles não ouvem nada. Minhas palavras ricocheteavam de crânio em crânio, sem entrar em nenhum. Eles só apreciavam meus milagres. Tive que tomar medidas, proibir os discípulos de deixar o menor enfermo se aproximar. Mas nada podia parar a arrebentação: Faziam passar os entrevados pelas janelas, pelo teto. No lago de taberíades, tive que me afastar da margem, em um barco, a fim de poder falar com os aldeões sem que eles viessem me tocar e me implorar. Em vão! Todos só suportavam minhas pregações por complacência, como se engole um pedaço de quiabo cozido: O prato principal continuava sendo o milagre. Na verdade eu tinha me tornado um funcionário de Deus. As pessoas já iam ao meu encontro só para ter a certeza de que se tratava mesmo do Filho de Deus. Depois se afastavam balançando a cabeça: Sim, sim, ele é mesmo o Filho de Deus.
Advogado Erivelton: E seus irmãos, sua mãe, o que foi feito deles depois daquele encontro em Nazaré?
JESUS: Os meus irmãos e minha mãe apareceram um dia pelo meio da multidão de uma aldeia por onde eu passava. Eu sabia que eles debochavam de mim, de minha pretensão, de minha loucura. Muitas vezes eles haviam me enviado mensagens suplicando-me que parasse de representar esse papel de Cristo; como eu nunca tinha respondido, eles vieram me impor um conselho de família. A multidão cercava o albergue onde nós nos havíamos refugiado, os discípulos e eu.
Advogado Erivelton: E aí, eles foram lá?
JESUS: Eu percebi um pequeno tumulto e gritos: Deixem-nos passar, gritavam meus irmãos- Nós somos sua família. Nós temos prioridade. Nós temos que falar com ele. A multidão, muito impressionada, abriu passagem. Eu me plantei bem na porta para detê-los. Eu sabia que eles iam se encolerizar comigo, mas eu devia agir assim. Falei: Quem é minha verdadeira família? Minha família não é de sangue, ela é de espírito. Quem são meus irmãos? Quem são minhas irmãs? Qualquer um que obedeça a vontade de Deus, meu Pai. Eu os vejo cheios de ódio, eu não os reconheço. Eu me virei para meus discípulos, no interior, e gritei-lhes com firmeza: Se alguém vem comigo, e se não larga seu pai e sua mãe, seus irmãos, sua mulher e seus filhos, não pode ser meu discípulo. Fiz entrar os primeiros desconhecidos ao alcance da minha mão e bati a porta no nariz de meus irmãos e de minha mãe.
Advogado Erivelton: Puxa! você não ficou com pena deles depois dessa cena?
JESUS: Eu não fiquei com pena. Eu queria me fazer compreender. Eu devia mostrar que eu mesmo punha o amor em geral acima do amor em particular. Meus irmãos partiram furiosos. Minha mãe ficou abatida esperando humildemente na porta. À noite, eu a fiz entrar e misturamos nossas lágrimas. Ela não me deixou mais até esta noite em que estou aqui conversando com você. Se você olhar, a minha maravilhosa mãezinha está aqui por perto junto com um batalhão de mulheres, com Myriam de magdala. Depois da minha desavença com meus irmãos, ela vela por mim. É sempre assim, as mães sempre vão amar com mais afinco os filhos rebeldes, os criminosos, os desviados, os doentes, pois são estes os que mais precisam de amor.
Advogado Erivelton: Sei disso. Eu que o diga, também. Mas então você conseguiu convencer a sua mãe, apesar dos protestos dos irmãos?
JESUS: Pois é Advogado. Você sabe qual foi a maior alegria que eu tive na minha vida?
Advogado Erivelton: Sinceramente, não sei. Qual foi?
JESUS: O meu maior e mais belo orgulho nesta terra é, sem dúvida, ter um dia convencido minha mãe
Advogado Erivelton: E a sua relação com Judas, o seu tesoureiro, como ficou?
JESUS: Depois da minha aposta secreta tudo melhorou. Eu confiava muito nele. relíamos os textos dos profetas. Desde a minha aposta eu passei a dar a ele uma atenção diferente do passado. Ele dizia: Tu deves voltar a Jerusalém, os textos são claros. Tu deverás ser humilhado, torturado, morto, antes de renascer. Haverá um momento difícil. Ele falava tranquilamente iluminado pela fé. Só ele havia entendido o que era o reino, um reino sem glória onde não haveria nenhum êxito material ou político. Ele me descrevia minha agonia com calma e esperança. Tu morrerás por uns dias, três dias depois tu ressuscitarás.
Advogado Erivelton: Você não sentiu medo? Você não está com medo agora? Como encarar a morte com tanta naturalidade?
JESUS: Quando ele me falava essas coisas eu não respondia. Eu ia me isolar para mergulhar de novo no poço do amor. Antes, eu nunca havia pensado seriamente sobre a morte e queria saber o que as minhas meditações me diriam a respeito. Descendo ao fundo de mim, em meu Pai, eu não encontrava nada de assustador. “Tudo é justificado”, me dizia Ele. Tudo está bem. Só o corpo é submetido à putrefação, aos vermes, ao desaparecimento. O essencial permanece. Isso me tranqüilizava. Cheguei à conclusão que a morte só podia ser, definitivamente, uma boa surpresa.
Advogado Erivelton: Então você partiu para Jerusalém!?
JESUS: Sim, Jerusalém tornou-se o nome de minha preocupação. O nome do meu destino. Então pegamos estrada. Em Jerusalém, só encontrei no início muralhas de indiferença. Dos poucos homens sábios, como Nicodemus, José de Arimateia, que pouco se interessaram por mim. Os fariseus e os membros do senedrim fecharam o bico exclamando: “Vocês não esperam mesmo que um profeta nos venha da Galileia!”. Isso não é possível. Eles não me engoliram. Eles não me suportam. Pensam que sou uma ameaça ao poder terreno. Me cospem, esbravejam...Espumam de ódio. Eu consegui existir, mas esta noite eles vão me matar.
Advogado Erivelton: Fale de Jerusalém. O nome de sua preocupação
JESUS: Jerusalém me fascina e ao mesmo tempo tenho dificuldade de amá-la. Ela mata profetas como matou João. Apedreja mulheres. Se recusa a ouvir as mensagens do meu Pai. Jerusalém que me fez sair do sério quando permitiu os cambistas de moedas negociarem na casa de meu Pai. “A casa de meu pai não pode se tornar uma casa de tráfico”. Não tive nenhum êxito em Jerusalém. Meu único êxito foi me fazer detestar pelos padres, doutores da lei, saduceus e fariseus. Eles se sentiam em perigo. Eles me forçavam a me tornar jurista, exegeta, teólogo, a me meter nas controvérsias do direito canônico em que forçosamente eu me mostrava inferior, pois eu só tinha como guia a minha luz. Quando eu explicava o que Deus me dizia diretamente eles gritavam: Blasfêmia! Blasfêmia! Eu já não dormia mais em Jerusalém. Preferíamos a aldeia de Betânia, na casa de nosso amigo Lázaro ou no monte das oliveiras. Nos últimos dias da minha vida eu fugi da ira dos fariseus, fugi da prisão que se aproximava, fugi da morte que me fungava com seu narigão frio. Escapei por pouco da fúria de Pôncio Pilatos, o prefeito de Roma na palestina.
Advogado Erivelton: Por falar em Pilatos, como foi o seu encontro com ele?
JESUS: Ele ouviu um espião dizer que eu pregava o fim do império romano e a chegada de uma nova ordem. Então me conduziram à sua presença. Lá ele me interpelou: Diz aqui para nós, Jesus: Deve-se respeitar o ocupante romano? É justo pagar-lhe os impostos?
Advogado Erivelton: O que você respondeu a Pilatos?
JESUS: Respondi que deve-se dar a César o que é de César, e dar a Deus o que á de Deus. Eu não sou um chefe de guerra e o meu reino não tem nada a ver com o reino de César.
Advogado Erivelton: E aí, ele aceitou a sua resposta?
JESUS: Essa resposta deixou Pilatos totalmente aliviado. Contudo, afastei de mim os zelotes, partidários de Barrabás, pois achavam que poderia me utilizar para sublevar a palestina contra o ocupante romano. Com isso eu fechei meu cerco de inimigos. Eu estava nu, com minha palavra desarmada. Fiquei mais uma vez num beco fechado. Não cedia. Não recuava. Temia temer. Judas me consolava: No terceiro dia tu retornarás.
Advogado Erivelton: Então a páscoa se aproximava e vocês seguiram para Jerusalém?!
JESUS: Sim, retomamos a estrada de Jerusalém. Evitei parar para cuidar dos doentes e enfermos. Queria diminuir a tagarelagem e os boatos sobre os milagres. Contudo, quando chegamos em Betânia, Marta e Myriam, irmãs de Lázaro, se atiraram sobre mim chorando. Lázaro morreu, Jesus. Ele morreu há três dias. Eu já tinha visto muitas pessoas morrerem ao longo de minha vida, estava habituado ao choque do luto, mas ali, sobre a fonte de Betânia, eu não sei porque, eu chorei com as duas mulheres. Senti que a morte de Lázaro anunciava a minha. Percebi que chegava o fim. Então depois de lamentarmos e chorarmos juntos, eu pedi para ver o corpo de Lázaro. Retiraram a pedra do túmulo e penetrei na cavidade aberta da rocha. Levantei o sudário e vi seu rosto esverdeado. Deitei-me ao lado do meu amigo e comecei a chorar enquanto descia no poço dentro de mim para encontrar o meu Pai e fazer-lhe mais um pedido. Lá, mais uma vez encontrei aquela luz ofuscante. Ouvi meu Pai dizer ao seu modo: “está tudo bem, não te inquietes”. Quando saí do poço Lázaro estava sentado do meu lado me olhando surpreso. Falei para ele: Lázaro, meu amigo, tu estás vivo. Tu ressuscitaste? Peguei pelas suas mãos e saímos juntos do túmulo para a surpresa e alegria de todos.
Advogado Erivelton: A volta de Lázaro ao mundo dos vivos alegrou você? Fazer mais aquele milagre lhe trouxe paz?
JESUS: Eu tentava me fixar na alegria de Marta e Myriam. Mas me via numa perplexidade. Meu Pai havia executado mais um milagre para me tranqüilizar e me demonstrar que eu retornaria da morte como muitos que eu vi retornar. Cheguei a pensar que ele havia sacrificado o repouso de Lázaro somente para me agradar. Finalmente uma voz saiu de dentro de mim e disse: O amor, o grande amor às vezes não tem nada a ver com a justiça; o amor algumas vezes deve mostrar-se cruel, e que ele, meu Pai, também choraria quando me visse na cruz.
Advogado Erivelton: Pois é, agora você está aqui no monte das oliveiras. Os soldados podem chegar a qualquer momento...você não quer fugir...então como vai ser? Você vai se entregar espontaneamente? Vai reagir à prisão?
JESUS: Olha, sinceramente, vou dizer uma coisa a você: Durante as últimas horas dessa viagem para cá, sonhei mesmo em proteger os meus amigos. Acho que deveriam deter só a mim, por blasfêmia e impiedade; a minha culpa não deve ser dividida por meus amigos; eu devo sofrer sozinho.
Advogado Erivelton: Como você vai evitar um castigo coletivo?
JESUS: Eu tinha duas soluções: Me entregar ou me fazer denunciar. Eu não podia me entregar. Isso era a mesma coisa de reconhecer a autoridade do sanedrim e Caifás. Isso era me submeter. Isso era negar todo o meu caminho.
Advogado Erivelton: O que você fez, então?
JESUS: Reuni os doze discípulos mais antigos. Minhas mãos e meus lábios tremiam, pois só eu sabia que nós estávamos reunidos pela última vez. Como todo judeu, bom anfitrião, eu peguei o pão, o abençoei com minhas preces e o ofereci a meus convivas. Depois todo emocionado abençoei e distribuí o vinho. Falei para eles: Pensem sempre em mim, em nós, em nossa história. Pensem em mim sempre que dividirem. Mesmo quando eu não estiver mais aqui, minha carne será seu pão, meu sangue sua bebida. Quando se ama se é um só. Eles estremeceram. O amor jorrava em jatos do meu coração. Então eu disse mais a eles: Meus meninos, eu só estou com vocês por pouco tempo. Em breve o mundo não me verá mais. Mas vocês me verão sempre, pois eu viverei em vocês. Amem uns aos outros como eu vos amei. Não há amor maior do que dar a vida por seus amigos. Alguns começaram a chorar. Vocês chorarão no início, mas sua aflição se transformará em alegria. A mulher quando pare passa pelo sofrimento, mas ela não se lembra mais de suas dores depois que um novo ser nasce finalmente nesse mundo.
Advogado Erivelton: E como ficou o plano de se entregar?
JESUS: Depois, isso foi o mais difícil. Eu tive que revelar o meu plano: Em verdade eu vos digo, um de vocês em breve vai me trair. Eles começaram a reclamar e protestar. Somente Judas ficou calado. Somente ele havia compreendido. Ele ficou pálido. Seus olhos negros me fixaram. Perguntou: Sou eu, Jesus? Ele havia percebido a dimensão do sacrifício que eu lhe pedia. Ele devia me vender. Sustentei seu olhar para fazê-lo compreender que eu só podia pedir a ele, o discípulo preferido, esse sacrifício que precederia o meu. Judas me entendeu e Fez uma careta de aceitação.
Advogado Erivelton: Então você não foi surpreendido pelos soldados de César? Então Judas traiu por amor e por obediência?
JESUS: Ele sofreu tanto quanto eu. Levantou-se da mesa, dirigiu-se a mim e sussurrou no meu ouvido: No terceiro dia tu retornarás. Mas eu também não estarei mais aqui. Não te abraçarei mais.
Advogado Erivelton: O que ele quis dizer com isso?
JESUS: Perguntei: Judas o que vais fazer? Ele me respondeu: Vou te vender ao Senedrim. Fazer os guardas irem ao monte das oliveiras. Aponto-te a eles. Em seguida me enforcarei
Advogado Erivelton: E aí, você tentou impedi-lo?
JESUS: Tentei dissuadi-lo. Mas sabe, advogado, o que foi que ele me disse?
Advogado Erivelton: Não, não sei!
JESUS: Disse-me ele: Se tu vais te crucificar! Eu bem posso me enforcar! Dizendo essas palavras ele saiu empurrando todo mundo. Os outros discípulos, ingênuos, nada captaram.
Advogado Erivelton: Finalmente, vou faze a você a minha última pergunta, pois já é tarde, Judas já saiu, os seus discípulos dormem, eu também estou com medo, não posso mais ficar aqui. Contudo, por favor, me fale só mais um pouco sobre sua mãe. Ela ainda está Por aqui?
JESUS: Está sim, sentadinha ali num canto escuro. Já adivinhou tudo. Já conversamos. Agora vou sentar-me um pouco junto dela. Ela vai me tranqüilizar. Já sorrimos juntos hoje. Já pedi perdão para ela. Já abracei ela. Já cantou hoje para mim as mesmas canções de ninar da minha infância. Dentro de algumas horas terei encerrado a minha aposta. Dentro de algumas horas se saberá se eu sou mesmo a testemunha de Deus, meu Pai, ou se eu era apenas mais um louco. A grande prova só acontecerá após a minha morte. Se eu estou enganado, nem mesmo eu me darei conta. Se eu tiver razão, tentarei não triunfar e trarei aos outros a boa nova. Pois tendo ou não razão, nunca vivi por mim mesmo. Tampouco morrerei por mim mesmo. Se eu perder, não perco nada. Se eu ganhar, eu ganho tudo. E faço todos nós ganharmos. Peço a meu Deus que faça com que até o último momento eu esteja à altura de meu destino. Que a dor nunca me faça duvidar.
Advogado Erivelton: Eu sou, humildemente, uma das provas vivas de que você ganhou e que todos nós ganhamos. Obrigado pela maravilhosa entrevista.
Dr Erivelton Lago- Advogado Criminalista. (98) 9971-8271

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