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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A entrevista de Jesus (Parte XII) - NÃO HÁ AMOR MAIOR DO QUE DAR A VIDA POR SEUS AMIGOS


DR. ERIVELTON LAGO - O ADVOGADO QUE ENTREVISTOU JESUS CRISTO NA NOITE QUE ANTECEDEU A SUA PRISÃO E SUA MORTE - (PARTE XII)


Advogado Erivelton: Os Galileus escutavam essa belas lições sobre o seu reino?
JESUS: Os galileus me escutavam boquiabertos, pois é com a boca que eles escutam; com os ouvidos eles não ouvem nada. Minhas palavras ricocheteavam de crânio em crânio, sem entrar em nenhum. Eles só apreciavam meus milagres. Tive que tomar medidas, proibir os discípulos de deixar o menor enfermo se aproximar. Mas nada podia parar a arrebentação: Faziam passar os entrevados pelas janelas, pelo teto. No lago de taberíades, tive que me afastar da margem, em um barco, a fim de poder falar com os aldeões sem que eles viessem me tocar e me implorar. Em vão! Todos só suportavam minhas pregações por complacência, como se engole um pedaço de quiabo cozido: O prato principal continuava sendo o milagre. Na verdade eu tinha me tornado um funcionário de Deus. As pessoas já iam ao meu encontro só para ter a certeza de que se tratava mesmo do Filho de Deus. Depois se afastavam balançando a cabeça: Sim, sim, ele é mesmo o Filho de Deus.
Advogado Erivelton: E seus irmãos, sua mãe, o que foi feito deles depois daquele encontro em Nazaré?
JESUS: Os meus irmãos e minha mãe apareceram um dia pelo meio da multidão de uma aldeia por onde eu passava. Eu sabia que eles debochavam de mim, de minha pretensão, de minha loucura. Muitas vezes eles haviam me enviado mensagens suplicando-me que parasse de representar esse papel de Cristo; como eu nunca tinha respondido, eles vieram me impor um conselho de família. A multidão cercava o albergue onde nós nos havíamos refugiado, os discípulos e eu.
Advogado Erivelton: E aí, eles foram lá?
JESUS: Eu percebi um pequeno tumulto e gritos: Deixem-nos passar, gritavam meus irmãos- Nós somos sua família. Nós temos prioridade. Nós temos que falar com ele. A multidão, muito impressionada, abriu passagem. Eu me plantei bem na porta para detê-los. Eu sabia que eles iam se encolerizar comigo, mas eu devia agir assim. Falei: Quem é minha verdadeira família? Minha família não é de sangue, ela é de espírito. Quem são meus irmãos? Quem são minhas irmãs? Qualquer um que obedeça a vontade de Deus, meu Pai. Eu os vejo cheios de ódio, eu não os reconheço. Eu me virei para meus discípulos, no interior, e gritei-lhes com firmeza: Se alguém vem comigo, e se não larga seu pai e sua mãe, seus irmãos, sua mulher e seus filhos, não pode ser meu discípulo. Fiz entrar os primeiros desconhecidos ao alcance da minha mão e bati a porta no nariz de meus irmãos e de minha mãe.
Advogado Erivelton: Puxa! você não ficou com pena deles depois dessa cena?
JESUS: Eu não fiquei com pena. Eu queria me fazer compreender. Eu devia mostrar que eu mesmo punha o amor em geral acima do amor em particular. Meus irmãos partiram furiosos. Minha mãe ficou abatida esperando humildemente na porta. À noite, eu a fiz entrar e misturamos nossas lágrimas. Ela não me deixou mais até esta noite em que estou aqui conversando com você. Se você olhar, a minha maravilhosa mãezinha está aqui por perto junto com um batalhão de mulheres, com Myriam de magdala. Depois da minha desavença com meus irmãos, ela vela por mim. É sempre assim, as mães sempre vão amar com mais afinco os filhos rebeldes, os criminosos, os desviados, os doentes, pois são estes os que mais precisam de amor.
Advogado Erivelton: Sei disso. Eu que o diga, também. Mas então você conseguiu convencer a sua mãe, apesar dos protestos dos irmãos?
JESUS: Pois é Advogado. Você sabe qual foi a maior alegria que eu tive na minha vida?
Advogado Erivelton: Sinceramente, não sei. Qual foi?
JESUS: O meu maior e mais belo orgulho nesta terra é, sem dúvida, ter um dia convencido minha mãe
Advogado Erivelton: E a sua relação com Judas, o seu tesoureiro, como ficou?
JESUS: Depois da minha aposta secreta tudo melhorou. Eu confiava muito nele. relíamos os textos dos profetas. Desde a minha aposta eu passei a dar a ele uma atenção diferente do passado. Ele dizia: Tu deves voltar a Jerusalém, os textos são claros. Tu deverás ser humilhado, torturado, morto, antes de renascer. Haverá um momento difícil. Ele falava tranquilamente iluminado pela fé. Só ele havia entendido o que era o reino, um reino sem glória onde não haveria nenhum êxito material ou político. Ele me descrevia minha agonia com calma e esperança. Tu morrerás por uns dias, três dias depois tu ressuscitarás.
Advogado Erivelton: Você não sentiu medo? Você não está com medo agora? Como encarar a morte com tanta naturalidade?
JESUS: Quando ele me falava essas coisas eu não respondia. Eu ia me isolar para mergulhar de novo no poço do amor. Antes, eu nunca havia pensado seriamente sobre a morte e queria saber o que as minhas meditações me diriam a respeito. Descendo ao fundo de mim, em meu Pai, eu não encontrava nada de assustador. “Tudo é justificado”, me dizia Ele. Tudo está bem. Só o corpo é submetido à putrefação, aos vermes, ao desaparecimento. O essencial permanece. Isso me tranqüilizava. Cheguei à conclusão que a morte só podia ser, definitivamente, uma boa surpresa.
Advogado Erivelton: Então você partiu para Jerusalém!?
JESUS: Sim, Jerusalém tornou-se o nome de minha preocupação. O nome do meu destino. Então pegamos estrada. Em Jerusalém, só encontrei no início muralhas de indiferença. Dos poucos homens sábios, como Nicodemus, José de Arimateia, que pouco se interessaram por mim. Os fariseus e os membros do senedrim fecharam o bico exclamando: “Vocês não esperam mesmo que um profeta nos venha da Galileia!”. Isso não é possível. Eles não me engoliram. Eles não me suportam. Pensam que sou uma ameaça ao poder terreno. Me cospem, esbravejam...Espumam de ódio. Eu consegui existir, mas esta noite eles vão me matar.
Advogado Erivelton: Fale de Jerusalém. O nome de sua preocupação
JESUS: Jerusalém me fascina e ao mesmo tempo tenho dificuldade de amá-la. Ela mata profetas como matou João. Apedreja mulheres. Se recusa a ouvir as mensagens do meu Pai. Jerusalém que me fez sair do sério quando permitiu os cambistas de moedas negociarem na casa de meu Pai. “A casa de meu pai não pode se tornar uma casa de tráfico”. Não tive nenhum êxito em Jerusalém. Meu único êxito foi me fazer detestar pelos padres, doutores da lei, saduceus e fariseus. Eles se sentiam em perigo. Eles me forçavam a me tornar jurista, exegeta, teólogo, a me meter nas controvérsias do direito canônico em que forçosamente eu me mostrava inferior, pois eu só tinha como guia a minha luz. Quando eu explicava o que Deus me dizia diretamente eles gritavam: Blasfêmia! Blasfêmia! Eu já não dormia mais em Jerusalém. Preferíamos a aldeia de Betânia, na casa de nosso amigo Lázaro ou no monte das oliveiras. Nos últimos dias da minha vida eu fugi da ira dos fariseus, fugi da prisão que se aproximava, fugi da morte que me fungava com seu narigão frio. Escapei por pouco da fúria de Pôncio Pilatos, o prefeito de Roma na palestina.
Advogado Erivelton: Por falar em Pilatos, como foi o seu encontro com ele?
JESUS: Ele ouviu um espião dizer que eu pregava o fim do império romano e a chegada de uma nova ordem. Então me conduziram à sua presença. Lá ele me interpelou: Diz aqui para nós, Jesus: Deve-se respeitar o ocupante romano? É justo pagar-lhe os impostos?
Advogado Erivelton: O que você respondeu a Pilatos?
JESUS: Respondi que deve-se dar a César o que é de César, e dar a Deus o que á de Deus. Eu não sou um chefe de guerra e o meu reino não tem nada a ver com o reino de César.
Advogado Erivelton: E aí, ele aceitou a sua resposta?
JESUS: Essa resposta deixou Pilatos totalmente aliviado. Contudo, afastei de mim os zelotes, partidários de Barrabás, pois achavam que poderia me utilizar para sublevar a palestina contra o ocupante romano. Com isso eu fechei meu cerco de inimigos. Eu estava nu, com minha palavra desarmada. Fiquei mais uma vez num beco fechado. Não cedia. Não recuava. Temia temer. Judas me consolava: No terceiro dia tu retornarás.
Advogado Erivelton: Então a páscoa se aproximava e vocês seguiram para Jerusalém?!
JESUS: Sim, retomamos a estrada de Jerusalém. Evitei parar para cuidar dos doentes e enfermos. Queria diminuir a tagarelagem e os boatos sobre os milagres. Contudo, quando chegamos em Betânia, Marta e Myriam, irmãs de Lázaro, se atiraram sobre mim chorando. Lázaro morreu, Jesus. Ele morreu há três dias. Eu já tinha visto muitas pessoas morrerem ao longo de minha vida, estava habituado ao choque do luto, mas ali, sobre a fonte de Betânia, eu não sei porque, eu chorei com as duas mulheres. Senti que a morte de Lázaro anunciava a minha. Percebi que chegava o fim. Então depois de lamentarmos e chorarmos juntos, eu pedi para ver o corpo de Lázaro. Retiraram a pedra do túmulo e penetrei na cavidade aberta da rocha. Levantei o sudário e vi seu rosto esverdeado. Deitei-me ao lado do meu amigo e comecei a chorar enquanto descia no poço dentro de mim para encontrar o meu Pai e fazer-lhe mais um pedido. Lá, mais uma vez encontrei aquela luz ofuscante. Ouvi meu Pai dizer ao seu modo: “está tudo bem, não te inquietes”. Quando saí do poço Lázaro estava sentado do meu lado me olhando surpreso. Falei para ele: Lázaro, meu amigo, tu estás vivo. Tu ressuscitaste? Peguei pelas suas mãos e saímos juntos do túmulo para a surpresa e alegria de todos.
Advogado Erivelton: A volta de Lázaro ao mundo dos vivos alegrou você? Fazer mais aquele milagre lhe trouxe paz?
JESUS: Eu tentava me fixar na alegria de Marta e Myriam. Mas me via numa perplexidade. Meu Pai havia executado mais um milagre para me tranqüilizar e me demonstrar que eu retornaria da morte como muitos que eu vi retornar. Cheguei a pensar que ele havia sacrificado o repouso de Lázaro somente para me agradar. Finalmente uma voz saiu de dentro de mim e disse: O amor, o grande amor às vezes não tem nada a ver com a justiça; o amor algumas vezes deve mostrar-se cruel, e que ele, meu Pai, também choraria quando me visse na cruz.
Advogado Erivelton: Pois é, agora você está aqui no monte das oliveiras. Os soldados podem chegar a qualquer momento...você não quer fugir...então como vai ser? Você vai se entregar espontaneamente? Vai reagir à prisão?
JESUS: Olha, sinceramente, vou dizer uma coisa a você: Durante as últimas horas dessa viagem para cá, sonhei mesmo em proteger os meus amigos. Acho que deveriam deter só a mim, por blasfêmia e impiedade; a minha culpa não deve ser dividida por meus amigos; eu devo sofrer sozinho.
Advogado Erivelton: Como você vai evitar um castigo coletivo?
JESUS: Eu tinha duas soluções: Me entregar ou me fazer denunciar. Eu não podia me entregar. Isso era a mesma coisa de reconhecer a autoridade do sanedrim e Caifás. Isso era me submeter. Isso era negar todo o meu caminho.
Advogado Erivelton: O que você fez, então?
JESUS: Reuni os doze discípulos mais antigos. Minhas mãos e meus lábios tremiam, pois só eu sabia que nós estávamos reunidos pela última vez. Como todo judeu, bom anfitrião, eu peguei o pão, o abençoei com minhas preces e o ofereci a meus convivas. Depois todo emocionado abençoei e distribuí o vinho. Falei para eles: Pensem sempre em mim, em nós, em nossa história. Pensem em mim sempre que dividirem. Mesmo quando eu não estiver mais aqui, minha carne será seu pão, meu sangue sua bebida. Quando se ama se é um só. Eles estremeceram. O amor jorrava em jatos do meu coração. Então eu disse mais a eles: Meus meninos, eu só estou com vocês por pouco tempo. Em breve o mundo não me verá mais. Mas vocês me verão sempre, pois eu viverei em vocês. Amem uns aos outros como eu vos amei. Não há amor maior do que dar a vida por seus amigos. Alguns começaram a chorar. Vocês chorarão no início, mas sua aflição se transformará em alegria. A mulher quando pare passa pelo sofrimento, mas ela não se lembra mais de suas dores depois que um novo ser nasce finalmente nesse mundo.
Advogado Erivelton: E como ficou o plano de se entregar?
JESUS: Depois, isso foi o mais difícil. Eu tive que revelar o meu plano: Em verdade eu vos digo, um de vocês em breve vai me trair. Eles começaram a reclamar e protestar. Somente Judas ficou calado. Somente ele havia compreendido. Ele ficou pálido. Seus olhos negros me fixaram. Perguntou: Sou eu, Jesus? Ele havia percebido a dimensão do sacrifício que eu lhe pedia. Ele devia me vender. Sustentei seu olhar para fazê-lo compreender que eu só podia pedir a ele, o discípulo preferido, esse sacrifício que precederia o meu. Judas me entendeu e Fez uma careta de aceitação.
Advogado Erivelton: Então você não foi surpreendido pelos soldados de César? Então Judas traiu por amor e por obediência?
JESUS: Ele sofreu tanto quanto eu. Levantou-se da mesa, dirigiu-se a mim e sussurrou no meu ouvido: No terceiro dia tu retornarás. Mas eu também não estarei mais aqui. Não te abraçarei mais.
Advogado Erivelton: O que ele quis dizer com isso?
JESUS: Perguntei: Judas o que vais fazer? Ele me respondeu: Vou te vender ao Senedrim. Fazer os guardas irem ao monte das oliveiras. Aponto-te a eles. Em seguida me enforcarei
Advogado Erivelton: E aí, você tentou impedi-lo?
JESUS: Tentei dissuadi-lo. Mas sabe, advogado, o que foi que ele me disse?
Advogado Erivelton: Não, não sei!
JESUSDisse-me ele: Se tu vais te crucificar! Eu bem posso me enforcar! Dizendo essas palavras ele saiu empurrando todo mundo. Os outros discípulos, ingênuos, nada captaram.
Advogado Erivelton: Finalmente, vou faze a você a minha última pergunta, pois já é tarde, Judas já saiu, os seus discípulos dormem, eu também estou com medo, não posso mais ficar aqui. Contudo, por favor, me fale só mais um pouco sobre sua mãe. Ela ainda está Por aqui?
JESUS: Está sim, sentadinha ali num canto escuro. Já adivinhou tudo. Já conversamos. Agora vou sentar-me um pouco junto dela. Ela vai me tranqüilizar. Já sorrimos juntos hoje. Já pedi perdão para ela. Já abracei ela. Já cantou hoje para mim as mesmas canções de ninar da minha infância. Dentro de algumas horas terei encerrado a minha aposta. Dentro de algumas horas se saberá se eu sou mesmo a testemunha de Deus, meu Pai, ou se eu era apenas mais um louco. A grande prova só acontecerá após a minha morte. Se eu estou enganado, nem mesmo eu me darei conta. Se eu tiver razão, tentarei não triunfar e trarei aos outros a boa nova. Pois tendo ou não razão, nunca vivi por mim mesmo. Tampouco morrerei por mim mesmo. Se eu perder, não perco nada. Se eu ganhar, eu ganho tudo. E faço todos nós ganharmos. Peço a meu Deus que faça com que até o último momento eu esteja à altura de meu destino. Que a dor nunca me faça duvidar.
Advogado Erivelton: Eu sou, humildemente, uma das provas vivas de que você ganhou e que todos nós ganhamos. Obrigado pela maravilhosa entrevista.

1 comentários:


  1. Li atentamente seu grandioso texto. A riqueza de imaginação, inspirada certamente na busca de um entendimento ou compreensão da vida, a partir da história de Jesus Cristo, mostra porque você é o advogado que Bacabal conhece. Percebo que há uma mistura de Bíblia com história. Trazendo a história de Jesus, para a realidade humano, pode ser assim, contudo, a grandeza de Dele, sentida pelo mundo de hoje, e provavelmente daquela época, a exemplo disto, temos Zaqueu, que só queria vê-Lo por curiosidade. Ao se deparar com Ele, prometeu pagar 4 vezes mais, a quem roubara. E hoje, seu nome toma proporções inexplicáveis, onde quer que seja pronunciado com sinceridade. Não imagino como seria o homem Jesus. Minha capacidade não me leva a tanto. Na bíblia diz que o justo vive pela Fé. Nossos olhos e entendimentos humano são simplesmente humanos. "Tímidos são os pensamentos dos mortais e incertas as nossas concepções, porque o corpo corruptível torna preada a Alma e a morada terrestre oprime o espírito carregado de cuidados"! Quem disse isso, de acordo com a Bíblia, foi o rei mais sábio de Israel: Salomão, filho de Davi. Não me sinto digno sequer de falar d'Ele, de tão pequeno que sou. E não é demagogia, é assim que me sinto.

    Quanto ao texto, onde se percebe um profundo conhecimento, se eu tiver o direito de avaliá-lo, direi que vem de uma mente privilegiada.

    Escrito por Jeremias Fotógrafo,do Blog do Jeremias.
    Muito obrigado!

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